Salvem as crianças

O blogger parece estar jogado às traças. Só parece, não se iluda. Quase que diariamente venho aqui lamber a cria. Revejo os comentários e visito o blogger dos comentadores. É uma forma de me redimir pelo distanciamento, afinal, noto que atualização não vem sendo o forte dos bloggueiros que mantenho algum contato.

Navio naufragado na Itália, sexo sem consentimento em rede nacional, Luiza no Canadá, SOPA e um sem número de novidades animam a internet. Todas as vezes que vou escrever fico ponderando o que será que tem maior importância para se tornar um post? Tudo e nada.

Se a internet nos dá o poder de gerar conteúdos, por que será que nos conformamos em reproduzir, passar adiante, o que está pronto? Essa questão é o meu estímulo para tratar de uma discussão bastante específica, porém no bojo da comunicação e das mídias, que é o conteúdo dedicado ao público infantil.

Embora seja ignorado por boa parte da população, a concessão para emissoras de televisão prevê horários para programação infantil, com informação, cultura e lazer apropriados para este público. E não se pode negar que alguns esforços foram felizes no sentido de fornecer um entretenimento de qualidade. Todavia, as boas intenções em gerar programas com conteúdos educativos esbarram nas questões de redução dos custos de produção.

Um exemplo ímpar da tensão entre o desenvolvimento do entretenimento de qualidade para o público infantil e a redução dos custos de produção é o da empresa de Willian Hanna e Joseph Barbera.

Esta empresa de animação criou sucessos como Zé Colméia, Pepe Legal, Bibo Pai e Bob Filho, Olho vivo e Faro Fino, Os Jetsons, Jonhy Quest, Os Flinstons e o até hoje aclamado Scooby Doo. Todavia, foi também esta empresa que deixou para trás a produção de animação criteriosa e exaustiva com base cinematográfica, que empregava muitos desenhistas e era custosa em tempo e recursos, para uma produção destinada à televisão, que fazia o maior uso possível de um fundo estático, dando movimentos repetidos para os desenhos em primeiro plano.

Descriminando a mudança no padrão de produção: reduz o número de empregados (desenhistas, roteiristas, arte finalistas e demais), reduz o número de suprimentos (papéis, tintas e equipamentos) e de tempo de produção, aumenta exponencialmente a quantidade de episódios, reduz o preço da produção dos episódios e sobreforma o das séries (o desenho de um episódio é aproveitado em outros), amplia o potencial de lucro dos produtores e reduz significativamente a quantidade das sinapses dos consumidores. Um paradigma!

No Brasil as emissoras abertas de televisão investiam em programas para público infantil, muitas das vezes com auditório. Havia apresentadores, bonecos, títeres, sorteios, brincadeiras, estímulo ao desenho, pintura, dança, música, artes em geral e até noções de cidadania, além de blocos com desenhos animados. Esses programas certamente tinham custos elevados com elenco, figurino, maquiagem, iluminação, sonoplastia, cenários, roteiro, edição, no que possa minimamente ser descrito. Agora, fazendo a vez da programação infantil, o que há é um fundo fixo e um ou dois apresentadores, falseando mais do que a falsidade pode falsear. E para não serem acusados de colocar desenho após desenho, algumas emissoras se dignam a sortear bugigangas para quem liga e participa de alguma brincadeira.

Mesmo inconvenientemente, pergunto: Que estímulo esse entretenimento oferece? Se posso ousar resposta, o estímulo é o de assinar a TV à cabo ávido por uma programação se não melhor, menos pior.

Comentários

J.F. disse…
Alô, Pitty.
Fui criança em uma época de tv em P&B e programas ao vivo. Os programas infantis eram de um nível muito elevado e verdadeiramente educativos. Nenhuma das várias versões apresentadas pela Globo chegou aos pés do Sítio do Pica Pau Amarelo da antiga TV Tupi. Que saudades de Lúcia Lambertini, Edi Cerri e os demais artistas, no programa produzido e dirigido por Julio Gouvea e sua mulher Tatiana Belinki, tudo "ao vivo". E não era o único programa infantil. Todos os canais tinham alguma coisa de qualidade para a criançada, tais como o Gincana Kibon, do Vicente Leporace, o (mais tarde) Vila Sésamo, etc. Hoje em dia, infelizmente, com a redução de custos de produção desses programas, a qualidade ficou de lado. Mas, não são apenas as emissoras as responsáveis. Também os anunciantes que, na busca por audiências maiores, acabam priorizando o público com maior potencial de consumo, os adultos. E até o público tem sua parcela de culpa, ao priorizar os BBBs da vida. E como ficam as crianças? Bem, elas ainda não possuem a exata noção do que seja instrutivo, do que seja qualidade, mesmo porque seus pais já não sabem o que seja tudo isso. E, aí, ficam assistindo uns programinhas prá lá de duvidosos, sendo que a televisão seria um ótimo meio para incutir um pouco mais de cultura em suas cabecinhas.
Abração.
Natty disse…
"Se a internet nos dá o poder de gerar conteúdos, por que será que nos conformamos em reproduzir, passar adiante, o que está pronto?" (Pitty)

No estado degenerativo que anda o Brasil, vai ficar mais difícil ainda responder a essa pergunta.

Quanto aos programas de TV, concidentemente eu postei um assunto do gênero no meu blog. Mas as suas ferramentas de argumentos são incríveis, você escreve de uma forma brilhante! Eu não redigi metade dos seus argumentos. Não se desconforte se eu te parabenizar repetitivamente. Seus posts são perfeitos!

Você citou noções de cidadania em programas infantis. Ah... como isso faz falta!

Beijos

Ps.: Encontrei seu pai esses dias, e eu nem sabia que ele era seu pai, rs. Vê se não some, poxa. Aparece por aqui mais vezes.

Postagens mais visitadas deste blog

Se evolui, o quanto me influi?

Corremos para os braços de Morpheu

O fetiche da dona de casa