Reflexões sem brilho por trás das lentes
Acompanho o Plano Municipal de
Habitação de Interesse Social do Rio de Janeiro. Não como socióloga, mas
filmando e fotografando. Embora eu exerça funções bem variadas, uma função
nunca anula a outra. Ou seja, como fotógrafa não deixo de ser socióloga e publicitária.
Assim como quando socióloga e publicitária a fotógrafa não morre. Enfim, o que
quero dizer é que mesmo sendo incumbida do registro audiovisual, tenho
considerações a respeito da atuação do poder público, do setor acadêmico e o da
população civil em relação aos projetos de habitação de interesse social.
Primeiramente, acompanhar as
oficinas para o plano modificaram minha percepção em relação ao funcionalismo público. É um
clichê a idéia de que os funcionários públicos não trabalham. Eu concordava com essa crítica, mas é uma injustiça cruel. Os funcionários públicos trabalham e muito. São
inteligentes, articulados, críticos e producentes. Todavia, suas atuações têm limitações
políticas, e não há boas intenções profissionais que possam combatê-las.
As barreiras políticas, que
acabam por denegrir as pessoas investidas nos cargos diversos, podem ser
resumidas pela tendência ostensiva de acato aos desígnios do mercado. E seguindo
este à risca, todas as ações inscritas no ideal democráticos não são mais que
meras medidas protocolares.
No protocolo está a necessidade
do diálogo entre o poder público e a sociedade civil para construir uma
proposta, projeto ou plano. O setor acadêmico é convocado quase como um
mediador, ou moderador, que atua entre o dialeto próprio do setor político e o
da população civil. Não duvidem que há um hiato enorme entre um e outro. Nesse
sentido, a função ingrata do setor acadêmico é a de conciliar discursivamente
os absurdos propostos pelo poder público e os improváveis desejos da sociedade
civil. Não é difícil intuir que o consenso entre o poder público e a sociedade
civil reside exclusivamente em ver no acadêmico a figura do traidor.
Por fim, a sociedade civil. É o
último porque é o último. Ouvir a sociedade é fundamental na medida em que qualquer
ação do poder público necessita legitimidade, e para tanto investe na perversão
de critérios democráticos. É claro que não dá pra ouvir e amparar a vontade de todos. Mas essa inviabilidade não pode ser reiteradamente usada como justificativa para que tudo e qualquer coisa seja decidido em nome do bem, sob pena de na função de um Estado termos um tutor.
A conclusão dessa relação tensa é
a de fazer um arremedo Hobbesiano de que o poder
político legítimo é aquele que se institui a partir do consenso, do
consentimento de todos, visando realizar o interesse comum de toda a sociedade. E enquanto arremedo democrático o plano é falho antes mesmo de ser elaborado. Afinal, o interesse que está sendo
compulsoriamente consagrado, à parte dessas relações, é o privado.
Comentários