Terra Selvagem
Comprei as entradas para
"Terra Selvagem”, mais pelo horário conveniente do que pelo filme. Gosto
da ideia de fazer do cinema uma programação e a escolha do filme uma surpresa. Faltando
mais de uma hora para iniciar a sessão, circulei pelo shopping. Me deparei com
um conhecido que, pela proximidade do cinema, já disparou a curiosidade sobre o
filme que iríamos assistir. O nome do filme não era forte o suficiente, até
porque o filme me era uma novidade, e tive que pegar o ingresso para lembrar. E
prontamente o conhecido explicou que era um filme que prometia bastante mas
entregava pouco. Com os ingressos comprados, o que pude fazer foi agradecer
pela dica. Ele riu e disse que entrar no cinema com pouco expectativa é bom,
pois dá ao filme a oportunidade de surpreender, mesmo que pouco. Dito e feito!
Os atores são famosos, mas não
chegam a arrastar um grande público para o cinema. Quando isso ocorre o roteiro e as
atuações acabam por assumir a responsabilidade de tornar o filme interessante. A
trama ocorre no Wyomin, um dos estados com maior extensão territorial e menor
densidade populacional dos EUA. Mais precisamente em um distrito com administração diferenciada, uma reserva indígena. Pela localização, população e elemento que engata a trama, um
assassinato, o título do filme vai estimulando as sinapses.
O corpo de uma jovem mulher local
foi encontrado. Por tratar-se de uma morte ocorrida na reserva indígena, há
pouco interesse e demora da polícia para investigar. E enviam para o local uma
agente novata do FBI que estava desavisada pelas proximidades. Chegando ao
local, a agente percebe que o caçador que encontrou o corpo tem muito conhecimento
sobre o local e possíveis elementos que a ajudariam a podem desvendar o caso. E
os dois passam a investigar a morte da jovem juntos com delegado responsável
pela reserva.
O filme cresce explorando questões
caras, e nem sempre tão visíveis, como a burocracia do Estado, o tratamento
desigual às populações tradicionais, violência e delinquência em áreas de poucos
atrativos, investimentos e oportunidades.
O estalo sobre a promessa que não
se cumpre, deflagrada por meu conhecido no papo pré sessão, acho que peguei a
ideia: o tempo. As imagens de neve até o infinito e o silêncio sepulcral fazem
o espectador perceber o tempo. Mais do que isso, fazem o espectador ficar
ansioso com o que não acontece. Vendo com outros olhos, na atualidade a
lentidão e o silêncio não são gratuitos, são convites à reflexão, querem dizer
algo. Mas para quem queria ver crime, investigação e ação, concordo com a ideia
de que o filme não entrega o que promete. Só não concordo que o filme é ruim.
Com fotografia honesta, enquadramentos
e sequências pouco criativas ou entusiasmantes, a trama se desenvolve com
coerência e emotividade no tom, graças sobretudo aos silêncios e às falas, ambos
muito bem empregados. Ponto para o diretor estreante Taylor Sheridan. E as
atuações também merecem destaque por um agradável déjà vu. Pelo comedimento com
as palavras, olhar profundo e ações certeiras, Jeremy Rener faz a linha Charles
Bronson modernizado. E Elizabeth Olsen uma Kate Marrone inocente.
E entre as metáforas da vida na
reserva em contraponto à vida na cidade e da vida humana em relação à vida
selvagem, o diretor conseguiu passar sua mensagem, adaptando uma história verídica. Se tiver oportunidade, vale
conferir.
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