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Mostrando postagens de 2011

Almodovar, "A pele que habito" e o artista habitado

“A pele que habito”, o mais recente filme do diretor espanhol Pedro Almodovar. Nunca um filme dirigido por Almodovar pode ser considerado meramente um filme. É sempre um filme seguido de impactos, dilemas, delicadezas, polêmicas, e o que mais afete. Eis a afetação uma referência que talvez possa ser o elemento que num filme denuncia a forma distinta de Almodovar. A afetação se alastra nas cenas, nos temas, nas tramas, na trilha e nas consagradas cores. É impossível não sentir. A inquietação vem pela abjeção ou pela identificação, no humor ou no drama, no que for, sempre em tons de excesso. “A pele que habito” é mais um roteiro de estratagema, cuja argúcia do escritor se revela em originalidade no amarrar de uma trama confusa, difusa. O argumento inicial confunde, fazendo crer que tudo ficará a cargo da ética médica e o uso de seres humanos em pesquisas científicas. Entrada razoável, instigante, mas o que se efetivou foi muito além. Toda ênfase seja dada ao muito e ao além. Desfilam

Dois minutos para pensar nos desejos

É o dia do casamento da amiga. A maquiagem e o cabelo estão intocáveis. O zíper do vestido sobe a duras penas. A meia calça pinica a não mais poder. E antes de encerrar os pés na inclemência de um salto alto, é o momento dos adereços. Brincos, de um lado e do outro. Cordão e? E você notou que tem uma daquelas fitas de Senhor do Bonfim no pulso. Não é pequena, não é disfarçável e não combina com o traje “fino”. E agora? Arrebentar ou não a pulseira? Como ficam os pedidos? Pois bem, esse é um caso típico onde a crença fica no limite. Há quem logo arrebente, há quem vá com a fita, afinal, é só mais um casamento. Na atualidade eu carrego no pulso duas dessas fitas, de cores bonitas, porém nada fáceis: uma roxa e uma rosa pink. Sim, é muita fita pra um só pulso, mas a proporção é mais ou menos essa, pois eu tenho muitos desejos para pouca vida. Dia desses minha afilhada me passou o scan de sempre. Desconfio que ela me acha um ET. E talvez ela não seja a única a alimentar tal crença. O fato

Porque flanar é perambular com inteligência

O título desse post é uma homenagem ao cronista João do Rio. Me valho de uma máxima de João do Rio para endossar a idéia de que o Centro do Rio é uma delícia. As ruas, os prédios, os serviços, o comércio, os tipos urbanos e uma série interminável de detalhes concentrados. A ida ao centro nunca é vazia, pois é ali onde tudo acontece, tudo se resolve. E é também o local onde a cultura fervilha. Música, teatro, cinema, bibliotecas, museus, centros culturais, galerias, exposições e intervenções. Passeando numa terça-feira de clima ameno, fiquei entregue ao que estivesse no caminho. E nesse clima fui brindada com uma exposição e um filme. Para olhos e ouvidos comuns a vida de um músico, para os aguçados uma miríade de informações vibrantes. Assim é a exposição "Queremos Miles", em cartaz no CCBB. A mostra reúne música, fotografia, história, arte e design enquanto traça a vida, a carreira e a obra de Miles Davis. Meramente imperdível. Miles Davis é cria de uma família de neg

Transitando questões

Entramos no carro e nos tornamos um monstro individual. Um desenho animado de Wald Disney ilustra bem essa transformação. O sujeito acorda, toma café da manhã, lê o jornal e vai para a rua como uma pessoa qualquer. Basta entrar no carro e logo se transforma, cheio de ira, se sentindo mais e melhor do que todo e qualquer outro. O transporte público nos grandes centros urbanos é um problema. E não dos atuais ou dos pequenos. Porém, as coisas podem ser percebidas de modo distinto. Enquanto eu tenho a comodidade do carro posso fechar meus olhos para o desconforto e inconveniência do transporte público. Ou seja, encaro o transporte público como um problema apenas a partir do momento em que me submeto a ele. Lendo de outro modo, me politizo ao me aproximar da coletividade, ao compor a massa. Acho incrível a insensibilidade dos nossos representantes políticos, mas até que tem lógica. Nunca me deparei com o Sérgio Cabral, o Eduardo Paes ou quem fosse num ônibus, metrô ou barca. Tampouco

"You know I'm no good" antes de apelo é digno de aplauso

Amy Winehouse morreu. Muitas lágrimas derramadas pelo mundo, comoção, flores, frases e até brincadeiras de gosto duvidoso a respeito da morte prematura da cantora. Na mídia há uma informação irrefutável: o talento. E outras informações dispersas sobre o consumo abusivo do álcool e drogas. Os jornalistas, as figuras públicas e o grosso da população não estão poupando opiniões que condenam o comportamento da Amy Winehouse. Entretanto, poucos são os que refletem sobre a vida. Sim, aquele brilho existencial que anima cada um e todos os seres vivos. Aliás, sendo um tanto mais profunda, a dor é pela perda da cantora ou da criatura? Afinal, a perda dos pais e amigos da Amy Winehouse é incomparável com a minha perda e a de quem me lê. Amy Winehouse teve uma carreira meteórica. O talento estava dentro dela, muito provavelmente chocado com uma boa dose de inconformidade com o mundo como ele é, culminando numa construção artística de sua postura: irreverência, embriaguês, alucinações e fugas para

Alegria é com gente bacana e alergia é com gente chata

Uma criatura sensível que freqüentava meu círculo de amizades na juventude certa vez me mostrou uma música da sua banda que dizia “ninguém te ama por mais de cinco minutos”. Na época achei a frase forte e quase cruel. Hoje em dia percebo de modo diferente, cruel e quase forte. O fato é que independente do que eu acho a frase não se perdeu no tempo, permanece. E é um start interessante para refletir sobre a fragilidade do ser humano. Dentro de nós tem um buraco que talvez possamos chamar de vazio, carência, enfim, do que for. O fato é que há em nós algo que não comporta a idéia ou sensação do pleno, saciedade, preenchimento. Todo ser humano, enquanto há vida, precisa de alguma forma lidar com esse hole. E no afã de encontrar o que não existe colocamos tudo e qualquer coisa pra dentro. Comida, bebida, vídeo, música, poesia, eletrônicos, informações, roupa da moda, drogas e até pessoas. Sim, as pessoas também entram no buraco. E talvez as pessoas sejam o que melhor habitam o vazio. De fat

Música para pairar

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Já que o meu "eu" resolveu falar, não vou calar. Enfim, o que tenho pra partilhar hoje é uma música. É incrível como os sons se instalam em nossas memórias. Essa música do Belle and Sebastian eu baixei nos idos de 2005/2006, época em que MP3 player era uma traquitana cara. Enfim, MP3 como companheiro e lá fui para Portugal, fugindo de mim. Mudei o eixo, mas a vida prosseguia. Várias convulsões acontecendo e essa música de background. Eu caminhava a tarde, sob o sol fraco e a inclemência de um vento frio cortante, pela orla da praia de São Sebastião, na Ericeira. A música se repetia e dava ritmo para as minhas passadas e inspiração para meus pensamentos. Hoje ouço a música e refaço os caminhos. Tenho a sorte de conseguir me reinventar. E quero sempre mais... Fora qualquer coisa, a música é muito bacana, meiga, sei lá. O que você acha?

Entre ...

Exercício do eu

Consigo escrever sobre o cotidiano, de modo engraçado ou sério. Consigo escrever sobre as questões que emanam da esfera política, social ou cultural, de modo imparcial ou inflamado. Porém, para escrever sobre os meus sentimentos sou comedida. E digo comedida porque acredito que me imponho uma espécie de censura. E por mais que eu escreva, tá sempre aquém do que eu sinto e tenho pra externalizar, ta sempre melindroso. É como se a pessoa que escreve, eu, fosse uma entidade, um vulto, qualquer coisa menos humana e mais mecânica. Enfim, se o caso é falta de prática, estou eu pra praticar. O sentimento central dessas parcas linhas é a frustração. É árduo tecer o que for a esse respeito. Entretanto, a frustração está por trás dos postes nas ruas, e quando menos esperamos ela se atira em nossos rumos. E a frustração tem proporções inúmeras, desde as muito pequenas, até as opulentas. Umas aparecem rapidinho e logo passam. Outras perduram e fazem zombarias conosco nos dias chuvosos de solidão e

Sinto que sinto

Todos os dias sou tomada por emoções. Digo tomada porque é algo que está completamente fora do meu controle. Acordo de um jeito, o dia transcorre de outro, e a noite eu nem sei o que é de mim. Se fosse possível estabelecer um padrão, eu diria que acordo bem, ao longo do dia a minha autonomia é invejável, mas a noite é a noite, fria e escura. Claro, nos finais de semana a lógica muda um bocado, pois acordo decrépita mas a noite fico iluminada! Fazendo uma analogia clichê, ando numa montanha russa. A subida é lenta e misteriosa, e a descida é violenta, rápida, vertiginosa. Entretanto, o que parece um descontrole absurdo é um bocado louvável. Afinal, melhor me sentir nessa montanha russa do que não sentir nada. O sentir qualquer coisa é se abrir para tudo, e o sentir nada é sacal, quando não fatal.

Mito e Rito de um amor

Como “antropóloga” só me culpo: porque eu não pensei nisso? Claro, o rito. Me conformei com a liminaridade. Mas é hora de encerrar, de enterrar. A morte exalou seus oDORES por meses. Aquela decrepitude ao alcance dos sentidos era um alento para sentir qualquer coisa. E a sinestesia forçada se estimulava pelo hiato entre o que a memória cria e o que a realidade proporciona. Uma armadilha, uma trapaça, zombaria da própria mente. Já não dou conta se foram muitos ou poucos dias. Só sei que foram, apesar de todas as resistências. E chega a ser curioso como não nos poupamos de viver, mas nos acovardamos frente a morte, ignorando o quanto as coisas andam de mãos dadas, do quão são complementares, cíclicas. E o fim é uma palavra feliz para a circunstância, seja por significar conclusão, seja por significar meta. Quero aos poucos resignificar os lugares, as pessoas, os eventos, as cores, os sabores, os sons, e enfim, estar apta a novos sentidos. Aqui "JAZ z" um amor!

"Meia-noite em Paris": qualquer coisa, da hora, alhures

O que de melhor poderia ocorrer para um sujeito que vive do passado do que ir para o passado? E mais, o que melhor poderia ocorrer a um sujeito que vive imerso na cultura do que ir parar no miolo de sua produção inspiradora? E assim surge o roteiro de “Meia noite em Paris”. Na embriaguês ansiosa de mudar de vida, sob as luzes da cidade da cultura e da arte, Gil encontra-se com suas ilusões. Os protagonistas de suas alucinações são escritores, músicos e pintores, emblemáticos de uma época que Gil insiste em "reviver". Neste incrível devaneio Gil tem a companhia do casal Zelda e Scott Fitzgerald, conversa com Ernest Hemingway, observa Picasso e se refere a Braque. Gertrud Stein aceita ler seu livro e lhe apresentar críticas. E como se não bastasse, desabafa ilusões amorosas com o trio Dali, Buñel e Man Ray. Quando sai da ilusão Gil depara-se com a noiva, a qual, excluindo-se a beleza, em nada lhe anima. É tido como um tolo, um sujeito com dificuldade em lidar com a realidade e

O trânsito de Cão

A lida acadêmica fez inflar em mim o entusiasmo, ou curiosidade, com o urbano. O mundo é urbano, pois é sim na cidade onde tudo acontece. Um acontecimento é algo que ocorre na realidade e é expresso pelo homem através da linguagem. Algum autor já disse que se uma árvore cai na floresta e ninguém vê para contar, logo, é como se a árvore não tivesse caído, não houve o acontecimento. Dos infinitos acontecimentos que ocorrem simultaneamente no urbano vou discorrer sobre a inusitada relação entre o trânsito e os cães. Desde a tenra idade recebemos informações sobre o cuidado que devemos ter nas ruas, sobretudo lições voltadas para o trânsito. As cores são ludicamente trabalhadas nos imperativos pare, atenção e siga, oras como pedestres, oras como motoristas. Musiquinhas são cantadas sarcasticamente advertindo que os postes não são de borracha. E a buzina é o som para que o outro preste atenção e/ou saia da frente. Todo o adestramento dispensado desde a infância parece insuficiente quando no

Refletindo direitinho

Tudo o quanto irei alinhar aqui em pensamentos indagatórios, com certeza, tenho algum conteúdo mais duro, formatado academicamente. Mas para um blogger o justo mesmo é tentar pautar uma conversa descontraída. Imagino que chegamos a um estágio da modernidade, ou pós modernidade, em que o hiato entre as normas jurídicas e as práticas está insustentável. Digo insustentável porque ao pé da letra uma coisa anula a outra, ou torna tudo muito complicado. Quer ver? Existe uma lei muitíssimo famosa, a Maria da Penha, que pune homens que ameaçam ou imprimem maus tratos às mulheres. No entanto, permanece a lei que condena a mulher que “desonra” o marido. Se o homem se esquiva na desonra, desonestidade da mulher, para justificar os maus tratos, como fica? Uma lei tem que ser anulada para dar validade para a outra. Os exemplos paradoxais não são poucos. Quando Getúlio Vargas pretendeu valorizar o ideal do trabalho, fazendo uma nação de trabalhadores, instituiu instrumentos diversos em favor dos va

O centro do Rio aos tragos

O centro do Rio é incrível. Não sei se tudo se torna interessante por conta da enorme concentração de gente, ou se interessante é o predicativo comum para os que perambulam por aquelas bandas. Hoje enquanto perambulava me chamou atenção o fumo. Certa vez ouvi de um ex fumante que nos dias chuvosos dá uma vontade danada de fumar. Enfim, hoje, um dia frio e chuvoso, muitos foram os que vi fumando, e fumando muito. Alguns fumam parados e outros caminhando. Uns calados e outros falando. Uns absortos e outros observando. E o mais prosaico foi me deparar com um cadeirante fumando. Sem ascender qualquer polêmica, haja fôlego para relativizar o vício alheio.

Construção do Urbano / Paisagem Simbólica

Essa semana fui seduzida por uma palestra, do prof. Nitzan Shoshan, na FGV. Antes de qualquer coisa, esclareço que o estímulo às palestras, encontros, seminários ou debates é sempre uma atividade louvável. Enfim, o título da palestra era excelente. O resumo interessante. Mas o conteúdo, pra variar, bastante aquém do esperado. Nitzan Shoshan é Profesor-Investigador do Centro de Estudos Sociológicos do Colegio de Mexico, e doutor em antropologia pela Universidade de Chicago. Apresentou um trabalho com o título de “Visibilidades Urbanas e paisagens simbólicas em Berlim". Só para situar, enquanto metrópole Berlim é como uma disneylândia para as ciências sociais. Há questões políticas, culturais, arquitetônicas, sociais e estéticas para o quê quer que se observe. Com o legado da Escola de Chicago, na qual o comentado autor se doutorou, podemos logo arriscar a concepção de estudo baseados no tripé biologia, psicologia e ética. Além da influência decisiva do interacionismo simbólico, que

A autenticidade de "Cópia Fiel"

O cineasta iraniano Abbas Kiarostami permanece. Na sua mais recente produção, “Cópia fiel”, passa uma demão no que ouso dizer ser o supra-sumo de sua obra: a busca. Sua poética se distancia do clichê ocidental do bem e do mal. E suas produções não se encerram ao conclusivo e moral. E o preço de sua originalidade, ou heterodoxia, é se positivo a incompreensão, e se realista a intolerância. Em “Cópia Fiél” o diretor ensaia um debate filosófico que deixa fluir um pouco do que o afeta de sua formação em Belas Artes. O personagem James Miller, interpretado por Willian Shimmel, escreve um livro que enaltece a cópia de arte. Entretanto, em conversa com Elle, interpretada por Juliette Binoche, assume que sua posição expressa no livro é menos o que pensava, e mais o que gostaria de pensar, ou seja, escreveu para convencer a si e aos outros. E entre o original e a cópia há introduções instigantes para pensar a arte entremeando com posturas e ações do cotidiano. De Jasper Johns a Andy Warhol a po

Meu discurso sobre "O discurso do rei"

É difícil para um inglês não pensar na monarquia. Eis que Tom Hopper investe numa sensível história que confere ainda mais simpatia à Corte Britânica. Trata-se da história de superação protagonizada pelo rei George. Gago desde os quatro anos, George enfrenta enormes dificuldades em se pronunciar em público, tarefa importante e constante para o exercício da monarquia. Recorre a todo tipo de ajuda para resolver seu problema, mas nada surte grande efeito. Sua esposa o recomenda a um sujeito com técnicas nada ortodoxas de cura dos problemas da fala. George inicia então um tratamento com Lionel, mesmo bastante reticente em relação aos métodos empregados. O primeiro desconforto foi pela quebra da hierarquia, quando Lionel o chama pelo primeiro nome ao invés de reverenciá-lo. Posteriormente a desconfiança recai na dualidade entre a prática e a razão, pois embora Lionel tenha curado os problemas da fala de algumas pessoas, ele não possui diploma ou qualquer curso formal que o legitime enquanto

Politicamente incorreta, mas pessoalmente aliviada

Vou fazer um desabafo nada correto, mas bastante sincero. Tudo bem, eu sei que a maioria das pessoas camuflam suas grosserias na escusa da sinceridade. Mas preciso mesmo externalizar o que penso, sob a pena de que se eu guardar demais infarto. Mediante ao inchaço das grandes metrópoles, aos problemas com a intensificação do tráfego e mesmo por apelos ecológicos, vez por outra me sensibilizo e parto de peito aberto para o “vou fazer minha parte”. Decido deixar o carro em casa, que em verdade sempre me aborrece, e me locomovo com o transporte público. Nesses dias eu bato o meu record de palavrões. Em pensamento, claro. Imagine um percurso que de carro você faz em vinte minutos. No transporte público esse mesmo trecho demora trinta, com sorte. E fora o percurso, o ônibus não passa na hora que você quer e precisa. O resumo é que fiquei cinqüenta minutos esperando o ônibus e apenas trinta minutos viajando nele. Claro, pensei em todos os palavrões possíveis e imagináveis. E a frase mais rep

Pagando pra ver

Apagaram-se as luzes e começa uma animação que me dá informações de como devo me comportar no cinema. Extintores, luzes de emergência, pode pipoca, desliga celular. Ao final da animação a enorme logo da empresa seguradora daquela sala de exibição. Adestramento lúdico, mas adestramento. Me aconchegando no escurinho e brota na tela um vídeo clipe. Dia ensolarado, Skate, rock, dança, juventude, cenas ao ar livre, tudo mágico, o mundo é perfeito. Um rapaz cantarola a alegria de viver, de colocar um sorriso no rosto de alguém, tudo pelo simples consumo de um refrigerante. Já tomei vários e não vi um centésimo daquela apoteose. Do refrigerante o que tenho de grandioso é problema gástrico. Mas ainda assim eu tomo! Agora invade a tela imagens e vozes suaves de mulheres agarradas ao seus rebentos. Falando descontraidamente do quanto é gostoso e importante o carinho e o cuidado. E esse tal carinho vai sendo remetido no passo a passo da gravidez, ao momento do parto, e avança para os primeiros me

Bruna Surfistinha

Primeiro de tudo, viva o cinema nacional. Nem sempre acerta, mas faz. E um viva também para a população brasileira, que parece estar pondo em prática que é preciso primeiro experimentar pra depois ter uma opinião. Com críticas favoráveis ou não, o estímulo é no sentido do fazer. Fiquei com impressões contraditórias sobre "Bruna Surfistinha". Razoável ao cumprir o papel de um filme: mesmo não sendo bom pra ver, é eficiente pra pensar, discutir, refletir. As atuações da Deborah Secco, Drica Moraes e Fabíola Nascimento são convincentes. A história da menina decidida que empreende um caminho profissional é ótima. O roteiro é bom, sem problemas na adaptação. Mas o filme é fraco. Fiquei intrigada com a produção. O diretor conseguiu um efeito medíocre com tantos fatores positivos.

Ah é de manhã / É de madrugada / É de manhã

Hoje acordei cedo. Muito cedo! Aquela preguiça, aquela indecisão, aquela confusão pra alinhar as obrigações e enfim dei o pontapé inicial. Me vesti e ganhei o mundo. Mas saí meio que em estado de graça. Isso quer dizer que as coisas acontecem no tempo que costumam acontecer, porém eu registro tudo em slow motion. Dei partida no carro e lá fui eu absorta. Não sei ao certo se fiz muitas ou poucas barberagens, mas as fiz. Nada muito perigoso, afinal de contas quando é cedo não há muitos veículos na rua e dá pra transitar como se a rua fosse só nossa. Subi a ponte Rio/Niterói e registrava o visual. Era uma espécie de luta que se travava na paisagem. A noite insistindo em permanecer e o dia forçando para entrar. Essa violência era um espetáculo. No céu azul turquesa de uma madrugada alguns raios de sol contornavam as nuvens num tom entre o rosa e alaranjado. A vontade era de parar o carro e tirar uma foto. Daquelas em que a gente fica anos e anos se gabando por ter conseguido captar algo mu

Abrindo 2011

Não vamos fazer caso por já estarmos em Fevereiro. Não importa! Janeiro é mesmo um mês à parte no calendário. O calor é insalubre e a necessidade de se desligar do mundo impera. Mas meados de Fevereiro já é tempo de reagir e engatar a vida no novo ano. Andei sumida. Me condicionei aos 140 caracteres. E resumi a vida a isso, à repetição de algo interessante que outro limitou, à reprodução de uma nota que a mídia enxugou e à minha própria cool limitação. Enganam-se os que interpretam a limitação como algo ruim. Por vezes a limitação é muito mais estimulante do que a liberdade absoluta. Afinal, quantas decisões não tomamos a partir do imperativo urgente de ser livre? E quantas dessas decisões não são equivocadas? Enfim, só o devir da vida nos dá respostas. Pois bem, da liberdade do blogger me travei sem ter muito o que partilhar, e da limitação do twitter me liberei. Um paradoxo fértil para elaborar as estratégias de sobrevivência em 2011: operar com intensidade nas situações de limitação