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Mostrando postagens de março, 2011

A autenticidade de "Cópia Fiel"

O cineasta iraniano Abbas Kiarostami permanece. Na sua mais recente produção, “Cópia fiel”, passa uma demão no que ouso dizer ser o supra-sumo de sua obra: a busca. Sua poética se distancia do clichê ocidental do bem e do mal. E suas produções não se encerram ao conclusivo e moral. E o preço de sua originalidade, ou heterodoxia, é se positivo a incompreensão, e se realista a intolerância. Em “Cópia Fiél” o diretor ensaia um debate filosófico que deixa fluir um pouco do que o afeta de sua formação em Belas Artes. O personagem James Miller, interpretado por Willian Shimmel, escreve um livro que enaltece a cópia de arte. Entretanto, em conversa com Elle, interpretada por Juliette Binoche, assume que sua posição expressa no livro é menos o que pensava, e mais o que gostaria de pensar, ou seja, escreveu para convencer a si e aos outros. E entre o original e a cópia há introduções instigantes para pensar a arte entremeando com posturas e ações do cotidiano. De Jasper Johns a Andy Warhol a po

Meu discurso sobre "O discurso do rei"

É difícil para um inglês não pensar na monarquia. Eis que Tom Hopper investe numa sensível história que confere ainda mais simpatia à Corte Britânica. Trata-se da história de superação protagonizada pelo rei George. Gago desde os quatro anos, George enfrenta enormes dificuldades em se pronunciar em público, tarefa importante e constante para o exercício da monarquia. Recorre a todo tipo de ajuda para resolver seu problema, mas nada surte grande efeito. Sua esposa o recomenda a um sujeito com técnicas nada ortodoxas de cura dos problemas da fala. George inicia então um tratamento com Lionel, mesmo bastante reticente em relação aos métodos empregados. O primeiro desconforto foi pela quebra da hierarquia, quando Lionel o chama pelo primeiro nome ao invés de reverenciá-lo. Posteriormente a desconfiança recai na dualidade entre a prática e a razão, pois embora Lionel tenha curado os problemas da fala de algumas pessoas, ele não possui diploma ou qualquer curso formal que o legitime enquanto

Politicamente incorreta, mas pessoalmente aliviada

Vou fazer um desabafo nada correto, mas bastante sincero. Tudo bem, eu sei que a maioria das pessoas camuflam suas grosserias na escusa da sinceridade. Mas preciso mesmo externalizar o que penso, sob a pena de que se eu guardar demais infarto. Mediante ao inchaço das grandes metrópoles, aos problemas com a intensificação do tráfego e mesmo por apelos ecológicos, vez por outra me sensibilizo e parto de peito aberto para o “vou fazer minha parte”. Decido deixar o carro em casa, que em verdade sempre me aborrece, e me locomovo com o transporte público. Nesses dias eu bato o meu record de palavrões. Em pensamento, claro. Imagine um percurso que de carro você faz em vinte minutos. No transporte público esse mesmo trecho demora trinta, com sorte. E fora o percurso, o ônibus não passa na hora que você quer e precisa. O resumo é que fiquei cinqüenta minutos esperando o ônibus e apenas trinta minutos viajando nele. Claro, pensei em todos os palavrões possíveis e imagináveis. E a frase mais rep

Pagando pra ver

Apagaram-se as luzes e começa uma animação que me dá informações de como devo me comportar no cinema. Extintores, luzes de emergência, pode pipoca, desliga celular. Ao final da animação a enorme logo da empresa seguradora daquela sala de exibição. Adestramento lúdico, mas adestramento. Me aconchegando no escurinho e brota na tela um vídeo clipe. Dia ensolarado, Skate, rock, dança, juventude, cenas ao ar livre, tudo mágico, o mundo é perfeito. Um rapaz cantarola a alegria de viver, de colocar um sorriso no rosto de alguém, tudo pelo simples consumo de um refrigerante. Já tomei vários e não vi um centésimo daquela apoteose. Do refrigerante o que tenho de grandioso é problema gástrico. Mas ainda assim eu tomo! Agora invade a tela imagens e vozes suaves de mulheres agarradas ao seus rebentos. Falando descontraidamente do quanto é gostoso e importante o carinho e o cuidado. E esse tal carinho vai sendo remetido no passo a passo da gravidez, ao momento do parto, e avança para os primeiros me

Bruna Surfistinha

Primeiro de tudo, viva o cinema nacional. Nem sempre acerta, mas faz. E um viva também para a população brasileira, que parece estar pondo em prática que é preciso primeiro experimentar pra depois ter uma opinião. Com críticas favoráveis ou não, o estímulo é no sentido do fazer. Fiquei com impressões contraditórias sobre "Bruna Surfistinha". Razoável ao cumprir o papel de um filme: mesmo não sendo bom pra ver, é eficiente pra pensar, discutir, refletir. As atuações da Deborah Secco, Drica Moraes e Fabíola Nascimento são convincentes. A história da menina decidida que empreende um caminho profissional é ótima. O roteiro é bom, sem problemas na adaptação. Mas o filme é fraco. Fiquei intrigada com a produção. O diretor conseguiu um efeito medíocre com tantos fatores positivos.