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Mostrando postagens de 2009

Ir vendo e aprendendo

Fazendo trocadilho com ditado popular. Do jeito que lembrei da história o ditado já me veio trôpego. Ocorreu há cerca de cinco anos, porém me lembro como se hoje fosse. Fui para Salvador. Essa curta sentença, se detalhada e estendida, nos oferece uma compreensão menos garbosa e mais dramática. Deixe-me expressar mais e melhor: Fui para Salvador, de ônibus, com meu pai, minha mãe e minhas duas irmãs. Ta bom pra você? Faltou apenas o detalhe de misericórdia: só tem uma coisa que eu odeio mais do que a Bahia, os baianos. Se meu detido leitor tiver capacidade ilustrativa, parca que seja, já vai conseguir compor o cenário: É dramático! E vários elementos serviam para sofisticar essa intrépida aventura. O primeiro deles a localização das nossas poltronas no ônibus. Nós cinco estávamos tais e quais guardiões inveterados do que chamam de banheiro. Sim, chamam de banheiro, mas ao meio da viagem aprendi que aquilo, na melhor das hipóteses, não passava de um tambor de amônia. Na pior das hipótese

Narciso, o espelho e a esfinge

Nós estamos reféns do adágio “ver para crer”. Nunca no mundo houve uma difusão tão intensa de imagens. Não damos importância a algo que não esteja registrado em imagens. Se não há imagens, é como se não existisse. Ou seja, algo ganha existência social a partir do momento que sua imagem passa a circular. É interessante refletir um pouco sobre a questão da imagem, fixa ou em movimento. Os primeiros estudos sobre a câmera escura não seriam eficientes para prever o seu desenvolvimento e popularização no futuro. Da câmera escura para as potentes câmeras digitais da atualidade há um salto promovido por tecnologias óticas no apuro das lentes, e digitais na diversificação e potencialização de recursos. Porém, o fim último é o mesmo: cristalizar uma imagem. O cinetoscópio e as projeções dos irmãos Lumiere não conseguiriam dar conta do fascínio e êxtase provocado pelas imagens seqüências que pela velocidade nos proporcionam a hipnotizante sensação de movimento. Como se a ilusão do movimento não

Pós Modernidade em três tempos

O que é modernidade? Não nos faltam conceitos ou frases prontas para dar conta da categoria modernidade. Talvez haja uma espécie de unanimidade inocente que resolve a modernidade com a idéia de novo, e junto desse novo uma série de atributos positivos. Não pretendo desenvolver uma discussão densa sobre a modernidade, porém me instiga ilustrar um pouco do cotidiano de uma suposta pós modernidade, pautada mais especificamente no neoliberalismo, em três tempos. No trabalho Todos os dias, no horário destinado para o almoço, eu me direcionava para o enorme restaurante central da empresa para a qual presto serviços. No restaurante há filas para vários tipos de comida, desde os que devem evitar sal, passando pelas comidas pesadas, uma fila para massas, para omeletes, para comida japonesa e até para quem prefere saladas, como é o meu caso. Bandeja, um prato, talheres. Eu ia selecionando os ingredientes e uma funcionária me servia. Tratava-se de uma rotina, já que raramente eu me dispunha a co

É bom encontrar / É bom guardar

Felizmente o frenesi da leitura bateu em mim. Eu já estava farta, me achando uma rude por não ter paciência pra ler dez páginas que fossem. Claro, por obrigação acabo lendo muito mais do que isso, mas falo ler espontaneamente. Enfim, combati a distância das leituras com um remédio perfeito: li um bom livro. Os livros são como as pessoas. Têm capa, orelha com promessas, e conteúdo. O conteúdo e a forma como é construído muda. A capa pode ser discreta ou bastante vistosa. A orelha pode conter informações fidedignas ou falsas. Porém, o balanço desses fatores, para o bem ou para o mal, vezes agrada a uns mais do que a outros, agrada a poucos, e há até os que agradam a quase todos, eis um balanço precioso. Acredito então que encontrei uma pessoa encantadora, ou seja, um livro que me seduziu. Me fez ler cada uma de suas linhas, parágrafos e páginas avidamente. Não podia ter uns minutos livres e já pensava nele, em tudo o que poderia ter pra me dizer num próximo encontro. Olhava para a capa e

Ressuscitando e Revisitando

Sumida? EU? Não, apenas uns contratempos. Em verdade estou como todo e qualquer ser no ritmo desenfreado do neoliberalismo, abraçando o mundo com as pernas. Enfim, nem sempre tenho tempo para dedicar a esse blogger e aos meus supostos três ou quatro leitores. Tomara que minha ausência não tenha sido motivo suficiente para decretar a extinção desse espaço. Enfim, reavivando o blogger, hoje eu estava lendo freneticamente vários textos e acabei tendo que revisitar uns conteúdos da época da faculdade, em cadernos. Escusado dizer que o caderno de uma criatura como eu, quando existe, é mais recheado de desenhos e recados do que efetivamente de conteúdos das disciplinas. E foi assim que encontrei meu tesouro para um domingo. Me deliciei lendo bilhetes e recados dos amigos. Revivi as aulas através dos comentários, desenhos, rabiscos, e até encontrei escritos de ordem muito pessoal, como uma carta para a minha afilhada, e uma poesia. Foi interessante ler tudo e fazer aquela catarse, pensar o qu

O fetiche da dona de casa

Farei hoje algo que não faço há tempos, uma crônica. Luzia se levantou com os primeiros raios de sol. Há quem se dê ao luxo de ir da cama para o banheiro, só que Luzia tinha outro percurso. Sua rotina era a da cama para a cozinha, colocar no fogo uma chaleira com água pra passar um café. Enquanto a água esquentava ela ia ao banheiro, se ajeitar. Olhou-se no espelho, lavou o rosto, escovou os dentes e voltou pra cozinha. José Carlos despertou com o cheiro do café fresco que tomava a casa. Esse sim, fazia o percurso da cama para o banheiro. Fez a barba, tomou banho, se arrumou e sem demora foi pra cozinha, tomar seu café fresquinho. Enquanto José Carlos retalhava o queijo Luzia mirava aquele sujeito. Cinco anos. Como pôde o tempo lhe passar tamanha rasteira? No primeiro ano tudo eram flores, dava gosto de ver o homem sempre bem disposto, lindo, apaixonado, animado, falante, comparecendo até quando ela menos esperava. As vezes de manhãzinha, antes de ir ao trabalho. Saudosa disposição! Se

Cuidado com os Desejos

Desde a mais tenra idade somos movidos pelos nossos desejos. Alguns alcançamos e comemoramos muito, outros alcançamos e sequer nos damos conta. Fiz um balanço dos meus desejos e concluí que não sou a criatura mais feliz do mundo, e nem conheço quem o seja, porém devo admitir que tive a maioria dos meus desejos realizados. Um dos primeiros e maiores desejos, que tenho consciência, foi a bicicleta. Eu queria tanto uma bicicleta que quando chegava perto de uma eu tinha até dor de barriga. Aos sete anos, de aniversário, meu avô me deu uma bicicleta: uma Brandani, verde metálica. Lembro-me da bicicleta como se a visse hoje, e os anos não diminuíram a fissura por bicicleta. Entre 14 e 15 anos eu queria um computador. Lembro-me de ver um IBM aptiva numa loja no shopping, com um vídeo tosco de um tubarão. Nossa, novamente a tal dor de barriga me consumia. Lembro-me de também ter sentido dor de barriga parecida quando deparei-me numa bienal com um computador que “lia” um livro do Paulo Coelho.

Tirania, autoritarismo ou despotismo

Se há algo que me arrepia o último fio de cabelo são as verdades absolutas. Contudo, como viver sem elas? Uma delas que irei refutar é a de que o ser humano está para a evolução. Creio sim que nada é estático, contudo não percebo lógica ou linearidade nas relações humanas. Vou me valer do exemplo do que é a entidade criança na sociedade ocidental e como tal entidade vem se comportando no geral e na média, claro que com exemplos crassos. O assunto é relevante, embora a minha introdução a ele tenha sido demasiadamente pomposa. E estou convicta que ao terminar de ler minhas parcas linhas você terá um depoimento fervoroso para compartilhar. Você só não terá, queira Deus, uma solução definitiva para a questão. Enfim, o período histórico denominado Modernidade inflou os ideais de liberdade com regras que deveriam ser defendidas pelos Estados, os direitos. E por seu turno, grosso modo, os direitos categorizaram os sujeitos. No auge dessa sofisticação podemos de antemão reconhecer o homem, a m

Fila nossa de cada dia

Brasileiro gosta de samba. Brasileiro gosta de mulatas. Brasileiro gosta de arroz com feijão. Tudo isso não passa de balela, uma falácia, sobretudo por conta do regionalismo. Mas se há algo que o Brasileiro gosta mesmo mesmo é de filas. Sim, as filas que em toda piada de português são chamadas de bichas. Se flanamos pelas ruas da cidade e avistamos um grupo de mais de cinco pessoas, desorganizadas uma atrás da outra, logo somos tomados pela curiosidade. Nos aproximamos, olhamos onde a fila começa e termina, procuramos identificar o motivo da fila, e não conseguindo disparamos logo a pergunta para um qualquer: Essa fila é pra quê? Você pode estar com o IPTU, IPVA, condomínio, água, luz e gás em dia. Você pode estar quite com o TRE. Você pode estar com as unhas feitas, com o cabelo cortado e com as compras do mês ok, mas você não resiste a uma fila. A pessoa a qual você indagou sobre o pra quê da fila lhe disse que é pra, sei lá, consertar sapato. Aquilo não lhe diz respeito! Você vira a

Dramaturgia dramática em foco

Os cinco ou seis leitores que comentam aqui nesse blogger são tão legais que quase me fazem crer que escrevo razoavelmente. Quer dizer, supondo uma escala de degradação, há os escritores que escrevem bem, os que escrevem mais ou menos, os que escrevem mal, os que escrevem mediocremente, e eu. A diferença entre eles está na capacidade de atrair leitores. Eis eu novamente despontando na escala do medíocre para o sofrível. E tal efeito me anima demais, vocês não calculam quanto. Saindo um pouco da alegria, do tudo azul, hoje me animei pra comentar de leve a mais recente novela da Glória Perez, Caminho das Índias. Eu não sou a Patrícia Kogut e ponto. Portanto, antes de qualquer comentário, devo esclarecer que adoro as produções audiovisuais da televisão brasileira, sobretudo pela parte que me emprega. Apesar de aqui fazer troça, só faço isso porque sou das taradas que não tendo mais o que fazer me atribuo a função “non grata” de colocar defeito. Aliás, muitos equivocados costumam denominar

Segue seco

Todo blogger, em algum momento ou em sua plena existência, apresenta um conteúdo de ordem excessivamente pessoal. E é até compreensível, já que nasceu com a idéia de ser uma espécie de diário. No meu caso eu evito o quanto posso enfadar meus quatro ou cinco leitores com as miudezas do meu cotidiano. Só que hoje não irei poupá-los de algo que sempre tive uma relação não muito amistosa, mas que na atualidade anda tomando uma proporção insuportável: as regras. Talvez Weber não tenha dado a devida ênfase à instituição da regras, nesses termos, quando escreveu “A ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Contudo, neste texto já é muito flagrante que o que Weber chama de Capitalismo, numa concepção de uma ordem burocrática, não está dissociado da instituição das regras, de um metodismo. A partir de então nada tem uma existência per si, se não obedece a algum caráter lógico, processual e regulado. Pessoalmente tomo tal como o começo do fim. Deixando muito de lado qualquer conceito rigid