O trânsito de Cão

A lida acadêmica fez inflar em mim o entusiasmo, ou curiosidade, com o urbano. O mundo é urbano, pois é sim na cidade onde tudo acontece. Um acontecimento é algo que ocorre na realidade e é expresso pelo homem através da linguagem. Algum autor já disse que se uma árvore cai na floresta e ninguém vê para contar, logo, é como se a árvore não tivesse caído, não houve o acontecimento. Dos infinitos acontecimentos que ocorrem simultaneamente no urbano vou discorrer sobre a inusitada relação entre o trânsito e os cães.

Desde a tenra idade recebemos informações sobre o cuidado que devemos ter nas ruas, sobretudo lições voltadas para o trânsito. As cores são ludicamente trabalhadas nos imperativos pare, atenção e siga, oras como pedestres, oras como motoristas. Musiquinhas são cantadas sarcasticamente advertindo que os postes não são de borracha. E a buzina é o som para que o outro preste atenção e/ou saia da frente.
Todo o adestramento dispensado desde a infância parece insuficiente quando nos deparamos com o trânsito. Os carros avançam os sinais, as pessoas avançam os sinais, e a pouca consideração com o próximo parece ser é a regra básica de sobrevivência.

Agora miremos nos cães. Eles nascem em um canto qualquer, e dos carros, motos, ônibus, caminhões ou pedestres ouvem apenas os ruídos. Ninguém leva os cães para um adestramento onde as cores dos semáforos são ensinadas. No entanto, mais calmo e atencioso que os pedestres, os cães vão para as faixas de pedestres e esperam o sinal abrir para os pedestres. Não se fiam nos apresados que arriscam a vida driblando os carros. Enfim, dão um exemplo de preservação.

Certamente o que apresento é uma alegoria. O cão aprende observando o comportamento do alheio. Mas de verdade fico admirada com a forma orgânica do animal em transitar em um ambiente projetado pela mente humana. Ou seja, o ambiente urbano, as vias, o trânsito, só fazem sentido para o homem que partilha da lógica que estruturou aquela materialidade. Entretanto, apesar de toda possível hostilidade, o ambiente também é possível aos que no mais das vezes reproduzem os comportamentos sem maiores domínios de códigos ou análises lógicas. E a conclusão é a de que cachorro é um animal curioso e sofisticado, tanto quanto o homem.

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