Transitando questões
Entramos no carro e nos tornamos um monstro individual. Um desenho animado de Wald Disney ilustra bem essa transformação. O sujeito acorda, toma café da manhã, lê o jornal e vai para a rua como uma pessoa qualquer. Basta entrar no carro e logo se transforma, cheio de ira, se sentindo mais e melhor do que todo e qualquer outro.
O transporte público nos grandes centros urbanos é um problema. E não dos atuais ou dos pequenos. Porém, as coisas podem ser percebidas de modo distinto. Enquanto eu tenho a comodidade do carro posso fechar meus olhos para o desconforto e inconveniência do transporte público. Ou seja, encaro o transporte público como um problema apenas a partir do momento em que me submeto a ele. Lendo de outro modo, me politizo ao me aproximar da coletividade, ao compor a massa.
Acho incrível a insensibilidade dos nossos representantes políticos, mas até que tem lógica. Nunca me deparei com o Sérgio Cabral, o Eduardo Paes ou quem fosse num ônibus, metrô ou barca. Tampouco vi seus filhos matriculados em escola pública ou precisando dos serviços da saúde pública. Como eles se sensibilizam com algo que eles não experienciam? É difícil.
Mas voltando para o transporte, no ônibus ou na barca me obrigo a interagir. Não é ficar conversando com quem está ao meu lado. É lidar com a presença do outro, às vezes muito de perto. É estar para os olhares e também olhar. É captar modos, hábitos, costumes, enfim, observar e relativizar. É respeitar e ser respeitado, é obedecer regras sejam elas escritas ou convencionadas.
Quando de carro me encerro em meu mundo. Me limito a prestar atenção no fluxo dos carros, na minha condução. Ninguém consegue ter a noção exata do que se passa dentro do meu carro. E se me aborreço com algo a reação provável é a mão pesada na buzina. Não ouço o que o outro fala, os outros não me ouvem, e na verdade o que se fala pouco importa mesmo. E parece que o uso do carro vai sendo simbolicamente construído para isso. Já notou nas propagandas o quanto ao comprar um carro você se torna exclusivo e dono do mundo? Aliás, equívoco é colocar o carro no trânsito, porque ou circulam lindos rasgando a noite, ou fazem um Off Road. Engarrafamento e relação com os outros não é comum nas propagandas dos automóveis.
Enfim, tudo isso para tentar enxergar o transporte de modo diferenciado. Para quem escreve, para quem cria, para quem observa, os transportes coletivos são como laboratórios, onde pegamos inspiração para crônicas, contos, poesia e prosa. Já o carro é um laboratório para frases de ódio ou de intensa introspecção. Vou oscilando entre um e outro, mas deixando sublinhada a necessidade de melhoria dos transportes coletivos e da educação no trânsito.
O transporte público nos grandes centros urbanos é um problema. E não dos atuais ou dos pequenos. Porém, as coisas podem ser percebidas de modo distinto. Enquanto eu tenho a comodidade do carro posso fechar meus olhos para o desconforto e inconveniência do transporte público. Ou seja, encaro o transporte público como um problema apenas a partir do momento em que me submeto a ele. Lendo de outro modo, me politizo ao me aproximar da coletividade, ao compor a massa.
Acho incrível a insensibilidade dos nossos representantes políticos, mas até que tem lógica. Nunca me deparei com o Sérgio Cabral, o Eduardo Paes ou quem fosse num ônibus, metrô ou barca. Tampouco vi seus filhos matriculados em escola pública ou precisando dos serviços da saúde pública. Como eles se sensibilizam com algo que eles não experienciam? É difícil.
Mas voltando para o transporte, no ônibus ou na barca me obrigo a interagir. Não é ficar conversando com quem está ao meu lado. É lidar com a presença do outro, às vezes muito de perto. É estar para os olhares e também olhar. É captar modos, hábitos, costumes, enfim, observar e relativizar. É respeitar e ser respeitado, é obedecer regras sejam elas escritas ou convencionadas.
Quando de carro me encerro em meu mundo. Me limito a prestar atenção no fluxo dos carros, na minha condução. Ninguém consegue ter a noção exata do que se passa dentro do meu carro. E se me aborreço com algo a reação provável é a mão pesada na buzina. Não ouço o que o outro fala, os outros não me ouvem, e na verdade o que se fala pouco importa mesmo. E parece que o uso do carro vai sendo simbolicamente construído para isso. Já notou nas propagandas o quanto ao comprar um carro você se torna exclusivo e dono do mundo? Aliás, equívoco é colocar o carro no trânsito, porque ou circulam lindos rasgando a noite, ou fazem um Off Road. Engarrafamento e relação com os outros não é comum nas propagandas dos automóveis.
Enfim, tudo isso para tentar enxergar o transporte de modo diferenciado. Para quem escreve, para quem cria, para quem observa, os transportes coletivos são como laboratórios, onde pegamos inspiração para crônicas, contos, poesia e prosa. Já o carro é um laboratório para frases de ódio ou de intensa introspecção. Vou oscilando entre um e outro, mas deixando sublinhada a necessidade de melhoria dos transportes coletivos e da educação no trânsito.
Comentários
Sinceramente tenho curtido muito andar de carro, assim posso conversar muito mais confortavelmente como meu maridão, hehe!
Mas essa "selvageria" típica de quem anda de carro em relação à outros é bem comum mesmo, vejo cada coisa que nem acredito...
Adoro seus textos! Beijos =*
Utilizo esse meio de transporte por necessidade, mas sinceramente, não sei dizer como será o momento em que não mais precisar. Aliás, uma confissão: moro no centro da cidade para facilitar a locomoção, mas a existência de uma diversidade nesse local preencheria todo o percentual que um transporte público pode trazer.
Ah, boa discussão, pena que não percebo esse tipo de discussão nas políticas públicas.
Um beijo,
K.