Dramaturgia dramática em foco

Os cinco ou seis leitores que comentam aqui nesse blogger são tão legais que quase me fazem crer que escrevo razoavelmente. Quer dizer, supondo uma escala de degradação, há os escritores que escrevem bem, os que escrevem mais ou menos, os que escrevem mal, os que escrevem mediocremente, e eu. A diferença entre eles está na capacidade de atrair leitores. Eis eu novamente despontando na escala do medíocre para o sofrível. E tal efeito me anima demais, vocês não calculam quanto.
Saindo um pouco da alegria, do tudo azul, hoje me animei pra comentar de leve a mais recente novela da Glória Perez, Caminho das Índias. Eu não sou a Patrícia Kogut e ponto. Portanto, antes de qualquer comentário, devo esclarecer que adoro as produções audiovisuais da televisão brasileira, sobretudo pela parte que me emprega. Apesar de aqui fazer troça, só faço isso porque sou das taradas que não tendo mais o que fazer me atribuo a função “non grata” de colocar defeito. Aliás, muitos equivocados costumam denominar tal feito de crítica. Contudo, a crítica é uma função seríssima, hiper necessária e, portanto, bem distinta do que eu me pretendo.
Pra começar, uma novela ambientada na Índia. O que é a Índia? Ela não cabe num documentário de 200 horas da National Geografic, ou do Discovery Chanel, quiçá num núcleo dramatúrgico de uma novela do horário nobre. A primeira dificuldade então passa a ser a de como não ser leviano, abusando do fosso cultural que nos separa. Vamos dizer que há uma folclorização, uma carnavalização da cultura indiana. Esse é o principal elemento da chacota, que quando não me mata de rir, me mata de vergonha.
Como é inviável, inútil e desinterressante comentar cada detalhe, ou me aprofundar em cada um dos personagens que eu mal conheço, vou me valer dos pontos mais crassos. O Bruno Gagliasso! Vocês podem me incriminar, dizer que ele me chamou atenção meramente por ser lindo, por parecer um boffinho, ou o que for. O máximo que farei é admitir que sim, mas que nem só por isso. Ele é um ótimo ator. E digo ótimo não por interpretar bem, por ter o dom pra arte, mas por ter cara dura mesmo, por ser corajoso, audacioso.
O ator de vinte e todos anos, já com cara de gato de armazém, interpreta bravamente um rapaz covarde, que curte arte, mas que os pais querem que ele assuma um cargo de mando na empresa. Aquele conflito mastigado de novela, “filhinho, larga a vida boa e vem trabalhar com papai”. E o rapaz sensível, que se muito tem vinte anos, quer estudar violão, tem sonhos e blá, blá, blá. Deu pra entender? Tem um problema cognitivo entre a aparência do personagem e a idade do ator. Tomara Deus que isso seja um problema especificamente meu, que todas as pessoas que vejam a novela nem notem que o Bruno Gagliasso não é mais um rapaz, já tá um homem mais do que feito.
Não bastasse essa pedreira de interpretar um menino frágil que não quer seguir carreira na empresa do papai, o personagem ainda tem uma irmã “porra-louca”, interpretada por nada menos que Maria Maia. Tudo bem, nós não estamos mais na fase em que o fenótipo dita o mundo. Ou não deveríamos estar... se eles dizem que são irmãos, eu vou acreditar. E ponto! De repente daqui pro final da novela descobriremos que um dos dois é filho de um amigo de faculdade da mãe, ou algo que o valha.
E o Alexandre Borges? Na boa, todas as vezes que ele aparece eu sinto que muda a “umidade relativa do ar”. Passo mal! Nem consigo me concentrar, e por isso não é possível comentar direito sobre o personagem dele, pois minha mente funciona em outra sintonia. Mas o irmão dele na novela, o Ramirez, interpretado pelo Humberto Martins, nossa, muita testosterona! É MA-RA!
E do cabo ao rabo, qualquer semelhança com "Explode Coração", é bobeira. Essa novela não é um "Clone"! De verdade mesmo só a autora e os atores são os mesmos. Não há mais ciganos, nada de marrocos, só indianos. E para todos notarem como a rede globo é legal e sensata, nos deu o alívio de não termos novamente um “Cigano Igor”! Nossa, ele deu vida ao master da interpretação, Ricardo Macchi, que fez o nome de forma avessa na televisão brasileira. Com um papel de protagonista no horário nobre ele se acabou enquanto ator, mas se promoveu enquanto a medida do sucesso. Conseguia na mesma face rígida e no mesmo tom de voz sombrio interpretar alegria, tristeza, êxtase e fracasso. Qualquer cabo de vassoura, parede de chapisco ou caixa de papelão conseguiria uma atuação mais convincente.
E do fim ao cabo, terminando do nada para evitar ser muito rude e um pouco verdadeira, vou adaptar a sentença “um filme pode ser ruim de ver, mas é sempre bom pra pensar” para a televisão. Até porque o que não nos instrui, diverte.

Comentários

яαiℓezα disse…
Eu gosto de como quando escreve, como escreve...

Acredito que você possa se enquadrar na escala dos bons escritores e não pense que porque 5 ou 6 pessoas comentam aqui, so eles veem o que você expõe. Eu mesma tenho inumeras pessoas q chegam no msn pra falar sobre post e nada de comentarios la, as pessoas tem preguiça!


Beijos!
Cris Medeiros disse…
Sobre essa novela não posso opinar nada, não vi nenhum capítulo até hoje.

Massss sobre vc:

"Os cinco ou seis leitores que comentam aqui nesse blogger são tão legais que quase me fazem crer que escrevo razoavelmente."

Geralmente quem escreve bem fica em dúvida se escreve bem. Quem escreve mal se acha um injustiçado pela Academia Brasileira de Letras...rs

Beijocas
Nathália E. disse…
Concordo plenamente com a Dama com relação a auto-interpretação feita por você.
Você domina as palavras, gata. Acredite.

Já com relação a novela, vi um capítulo e dormi.
Por isso acredito que tenho o poder de dizer que ela é chata. Chata pra caramba.

Beijo!
Rodrigo Dias disse…
Não vi muito dessa novela, mas não dá pra negar que tem um pouco de O Clone nela. Em vez de árabes - ciganos era numa outra novela -, agora tem idianos. A história é praticamente a mesma: choque de culturas, um de uma cultura querendo se casar com outro, outros que não podem se casar.

É legal conhecer culturas, mas o problema é que a Glória Perez cai sempre na mesmice. Espero estar errado, e como não vejo essa novela, acho que estarei muito errado.

Beijo
Sergio Brandão disse…
Como o "Rodrigo" escreveu aí em cima, "ciganos" faziam parte do enredo de "Explode Coração"... rsrs O que não inviabiliza em nada toda a sua argumentação... Acho que não só a Glória Perez, mas todos os outros autores de novela, tem mesmo um jeito único e já previsível de criar e contar histórias! Veja, como outro exemplo, as novelas do Manoel Carlos: a protagonista é sempre uma "Helena", o elenco reúne sempre os mesmos coringas e aquelas cenas enooormes com diálogos que não dizem nada (do tipo: "Como chove hoje!").
Ainda não vi nenhum capítulo dessa novela e nem devo assistir. Aliás, o tempo que passo em casa, quando não estou brincando ou vendo Discovery Channel com meu filho, estou diante do computador... Quando tiver outro parecer como este, socialize ele aqui pra gente... rsrs Bjsss.

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