Segue seco
Todo blogger, em algum momento ou em sua plena existência, apresenta um conteúdo de ordem excessivamente pessoal. E é até compreensível, já que nasceu com a idéia de ser uma espécie de diário. No meu caso eu evito o quanto posso enfadar meus quatro ou cinco leitores com as miudezas do meu cotidiano. Só que hoje não irei poupá-los de algo que sempre tive uma relação não muito amistosa, mas que na atualidade anda tomando uma proporção insuportável: as regras.
Talvez Weber não tenha dado a devida ênfase à instituição da regras, nesses termos, quando escreveu “A ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Contudo, neste texto já é muito flagrante que o que Weber chama de Capitalismo, numa concepção de uma ordem burocrática, não está dissociado da instituição das regras, de um metodismo. A partir de então nada tem uma existência per si, se não obedece a algum caráter lógico, processual e regulado. Pessoalmente tomo tal como o começo do fim.
Deixando muito de lado qualquer conceito rigidamente teórico, olhemos ao nosso redor. Tudo o que vemos e fazemos está regulado e confinado a uma lógica social producente instaurada antes de nossa existência e alheia a nossa vontade, quiçá nossa concordância.
Como o concordar ou discordar é um ato devoto ao iluminismo, nem penso em abusar dele. Digamos que estou no sistema e observemos meramente como nos comportamos nele. Não podemos esquecer que o que está em pauta são as regras. Estas são entidades, ou melhor, instituições. Elas não precisam nem estar formalizadas e documentadas, pois damos a elas crédito e existência sem nos darmos conta. Duvida?
Quando vamos a um mercado, passeamos pelos corredores e escolhemos algum produto que precisamos e então vamos para a fila do caixa pagar por este produto. O primeiro ponto é o passear pelos corredores. Porque não passeamos escalando as prateleiras? Eu sempre quis me pendurar nas prateleiras, pra pegar o produto que está mais no alto, ou então pra cortar caminho e chegar logo no outro corredor como quem pula um muro, como quem pega um atalho. Enfim, nunca fiz e nem vi ninguém fazer isso. E o que dizer da fila? Está escrito em algum lugar, regulamentado, sacramentado ou o que o valha, que precisamos esperar a nossa vez logo atrás de quem já estava esperando? Não está em lugar nenhum, mas respeitamos piamente essa tal regra. Claro que ela tem uma ordem de organização e civilidade útil, mas nem por isso deixa de ser uma prova de nossa cegueira e avidez por regras.
Saindo dos exemplos úteis e descambando para os de suma estupidez, o que dizer dos protocolos de serviços burocráticos? Porque é que precisamos carimbar tantos papéis? Porque é que precisamos fornecer tantas informações que já estão mofando em bancos de dados diversos, sejam de órgãos públicos, sejam de empresas privadas? São as regras! E sobre esse mundo de informações que são repetidas à exaustão, eu tenho a sensação de que se eu tropeçar na frente de qualquer loja no centro da cidade, um cidadão qualquer irá me ajudar a levantar dizendo meu nome, sobrenome, CPF, nome da mãe e pai, endereço, grau de escolaridade, peso e quanto visto e calço. Isso sem ser meu amigo ou conhecido, sem nunca antes ter me visto!
Ainda nos exemplos toscos, experimente ir a um museu, centro cultural, ou até uma boate. Há um sem número de regras que você não sabe de onde brotam, e não alcança sequer a razão, um motivo razoável para elas terem sido criadas. Num museu, não se pode encostar na parede. Ok, imagino que para não sujar, mas o grau de subjetividade é tão grande que de repente é mais para não dar um aspecto de apatia aos visitantes do que qualquer coisa. Nada de fotografias! Mas essa regra é a mais descumprida de todas que eu conheço. Aliás, acho que foi criada só pra ser descumprida.
Há nos lugares de pseudo-entretenimento um bando de brutamontes, fazendo cara feia, para nossa suposta segurança, zelando por regras aleatórias. Estava eu na entrada duma festa e eu falava ao celular com uma amiga. Por acaso a amiga estava a cinco metros de onde eu estava, e nos separava uma grade de aproxidamente um metro de altura, e um acéfalo de terno preto que exalava cheiro de jaula das feras. Eu ia me aproximando para poder falar viva-voz e até tocar minha amiga e ele olhava pra mim e dizia que não podia. Dá pra entender a falta de critério? Eu perguntei: Não pode por quê? E o energúmeno se limitava a balançar a cabeça e dizer que não podia. O meu receio é que um sujeito desses tropece e caia, pois se ficar de quatro relincha e não levanta nunca mais. Não há entre o céu e a terra argumento possível para tornar razoável o imperativo categórico ilógico proferido pelo biltre. Esse é o resultado deprimente da inversão dos valores: abusar da massa muscular e ignorar a encefálica.
Enfim, vamos zelar pelas regras. Elas são parte do mundo e um mundo a parte. Tome cuidado, pois você nesse momento pode estar transgredindo a uma ou várias, ciente ou não. E vigiai o próximo, afinal, se você não pode viver em paz, porque é que vai dar paz ao outro!?
Talvez Weber não tenha dado a devida ênfase à instituição da regras, nesses termos, quando escreveu “A ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. Contudo, neste texto já é muito flagrante que o que Weber chama de Capitalismo, numa concepção de uma ordem burocrática, não está dissociado da instituição das regras, de um metodismo. A partir de então nada tem uma existência per si, se não obedece a algum caráter lógico, processual e regulado. Pessoalmente tomo tal como o começo do fim.
Deixando muito de lado qualquer conceito rigidamente teórico, olhemos ao nosso redor. Tudo o que vemos e fazemos está regulado e confinado a uma lógica social producente instaurada antes de nossa existência e alheia a nossa vontade, quiçá nossa concordância.
Como o concordar ou discordar é um ato devoto ao iluminismo, nem penso em abusar dele. Digamos que estou no sistema e observemos meramente como nos comportamos nele. Não podemos esquecer que o que está em pauta são as regras. Estas são entidades, ou melhor, instituições. Elas não precisam nem estar formalizadas e documentadas, pois damos a elas crédito e existência sem nos darmos conta. Duvida?
Quando vamos a um mercado, passeamos pelos corredores e escolhemos algum produto que precisamos e então vamos para a fila do caixa pagar por este produto. O primeiro ponto é o passear pelos corredores. Porque não passeamos escalando as prateleiras? Eu sempre quis me pendurar nas prateleiras, pra pegar o produto que está mais no alto, ou então pra cortar caminho e chegar logo no outro corredor como quem pula um muro, como quem pega um atalho. Enfim, nunca fiz e nem vi ninguém fazer isso. E o que dizer da fila? Está escrito em algum lugar, regulamentado, sacramentado ou o que o valha, que precisamos esperar a nossa vez logo atrás de quem já estava esperando? Não está em lugar nenhum, mas respeitamos piamente essa tal regra. Claro que ela tem uma ordem de organização e civilidade útil, mas nem por isso deixa de ser uma prova de nossa cegueira e avidez por regras.
Saindo dos exemplos úteis e descambando para os de suma estupidez, o que dizer dos protocolos de serviços burocráticos? Porque é que precisamos carimbar tantos papéis? Porque é que precisamos fornecer tantas informações que já estão mofando em bancos de dados diversos, sejam de órgãos públicos, sejam de empresas privadas? São as regras! E sobre esse mundo de informações que são repetidas à exaustão, eu tenho a sensação de que se eu tropeçar na frente de qualquer loja no centro da cidade, um cidadão qualquer irá me ajudar a levantar dizendo meu nome, sobrenome, CPF, nome da mãe e pai, endereço, grau de escolaridade, peso e quanto visto e calço. Isso sem ser meu amigo ou conhecido, sem nunca antes ter me visto!
Ainda nos exemplos toscos, experimente ir a um museu, centro cultural, ou até uma boate. Há um sem número de regras que você não sabe de onde brotam, e não alcança sequer a razão, um motivo razoável para elas terem sido criadas. Num museu, não se pode encostar na parede. Ok, imagino que para não sujar, mas o grau de subjetividade é tão grande que de repente é mais para não dar um aspecto de apatia aos visitantes do que qualquer coisa. Nada de fotografias! Mas essa regra é a mais descumprida de todas que eu conheço. Aliás, acho que foi criada só pra ser descumprida.
Há nos lugares de pseudo-entretenimento um bando de brutamontes, fazendo cara feia, para nossa suposta segurança, zelando por regras aleatórias. Estava eu na entrada duma festa e eu falava ao celular com uma amiga. Por acaso a amiga estava a cinco metros de onde eu estava, e nos separava uma grade de aproxidamente um metro de altura, e um acéfalo de terno preto que exalava cheiro de jaula das feras. Eu ia me aproximando para poder falar viva-voz e até tocar minha amiga e ele olhava pra mim e dizia que não podia. Dá pra entender a falta de critério? Eu perguntei: Não pode por quê? E o energúmeno se limitava a balançar a cabeça e dizer que não podia. O meu receio é que um sujeito desses tropece e caia, pois se ficar de quatro relincha e não levanta nunca mais. Não há entre o céu e a terra argumento possível para tornar razoável o imperativo categórico ilógico proferido pelo biltre. Esse é o resultado deprimente da inversão dos valores: abusar da massa muscular e ignorar a encefálica.
Enfim, vamos zelar pelas regras. Elas são parte do mundo e um mundo a parte. Tome cuidado, pois você nesse momento pode estar transgredindo a uma ou várias, ciente ou não. E vigiai o próximo, afinal, se você não pode viver em paz, porque é que vai dar paz ao outro!?
Comentários
hehehehehe
e ai moça tudo bem???
espero que sim.
Adorei o texto, bem revolt né, concordo com tudo. Melhor frase na minha opinião: abusar da massa muscular e ignorar a encefálica.
BEIJOSSS
:)
Beijocas
Quando vi hoje um comentário seu lá no "de4", vim logo até aqui para acessar algum post antigo e deixar um alô, quando tive a grata surpresa de ler este "novinho em folha"... MUITO BOM!!! Como todos os outros seus que já li antes!
Por falar em "regras", acho que deveria ser a regra número 1, daqui pra frente neste blog, vc postar cotidianamente, salvo por algum motivo grave justificado, sob pena de pagar multa a cada um dos seus leitores! rsrsrsrs
E muito legal que as suas "pessoalidades" sejam assim tão sociofilosóficas e nem um pouco enfadonhas!... "Volte sempre"!!!! rsrsrs Bjs.
Beijos.
Talvez porque o "cara" la de cima esteja vendo e este seria um motivo pra "ganhar um bom pontinho" com ele,(Isso pra quem acredita nessas coisas)ou porque o desprezo diante de algumas atitudes, seja algo que realmente incomode, tirando assim a paz(dois em um).
Caio fernando de Bareu certa vez disse:
"E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrario: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda"
Beijooooooooo