Django Livre
O
cinema de autoria vez por outra é posto em uma espécie de Tribunal de
Nuremberg. E o julgamento não deixa de
ser válido, afinal, é uma forma discursiva de garantir que outros tipos de
produção tenham espaço para "circular".
Entre
as acusações mais frequentes ao cinema de autoria constam a produção para
massa, a padronização estética e demais reducionismos na ordem cultural. Mas
apesar dos argumentos que facilmente o condena, o cinema de autoria tem muitos
méritos, e os diretores consagrados não vacilam. E um exemplo extraordinário
dessa espécie de superação, ou da necessidade de satisfazer o gosto do freguês,
é Tarantino.
Supondo
uma gramática cinematográfica, Tarantino seria um sinônimo de violência. E que
violência! Mas no cinema há tiros e tiros. E um cinéfilo jamais confundiria um
tiro de um filme do Tarantino com, por exemplo, um tiro de "Rambo",
"Duro de Matar" ou "Exterminador do Futuro". Mesmo fazendo
o pouco caso de colocar toda produção de violência bélica em um balaio, a
maestria de Tarantino se imprime num estampido, cuja estética visual e sonora o
livra de comparações.
E
Tarantino não fica na violência. Avança! Seus roteiros se empenham em criar
circunstâncias inesperadas, salpicados de frases de efeito, mui espirituosas,
dignas da audácia de seus protagonistas.
Não se trata de filmes com longos e abundantes diálogos, mas de filmes
em que os diálogos são precisos e preciosos. E a moderação nos diálogos vira
trunfo para o que há de mais empolgante para os amantes da produção desse diretor:
a trilha sonora. Sobre a trilha sonora
limito-me ao consenso "impecável sempre".
Tanto
o que exaltar na produção de Tarantino que "Django Livre", seu filme mais recente,
quase fica junto aos demais. Quase! O amadurecimento do diretor faz com que as pesadas críticas ao seu trabalho, sobre as quais já está calejado, mudassem
o foco da violência para o racismo, tema tão caro para a América. Entre os mais
indignados com a forma como Tarantino conduziu o filme, com argumentos
históricos e licença criativa, está o diretor Spike Lee.
Spike
Lee se recusa a assistir o filme alegando absoluto desrespeito de Tarantino com
a história dos negros dos EUA. Essa crítica, aos meus olhos, só enriqueceu o
filme. Afinal, abre espaço para um debate que as vezes silencia, mas que ainda
incomoda muito a sociedade. E a resposta de Tarantino foi a de que por maior a
violência que possa ser criada e exibida no cinema, ela é insignificante se
comparada com a violência que foi de fato posta em prática contra os negros.
Aplausos! A partir dessa sentença eu já estava ávida para ver o filme,
inclinada a gostar e compromissada a indicá-lo a quem fosse. E por isso me acho
muito suspeita para falar sobre o filme. Findo o post dizendo que Spike Lee não
sabe o que está perdendo! Se é que foi tolo o suficiente para não assistir...
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