A saída como um bom negócio
Sair,
sentar em algum lugar, conversar com os amigos, comer e beber. Nada
mais simples e agradável. No entanto, esse momento de descontração
muitas vezes gera pequenos constrangimentos, noutras até problemas.
Entre os
constrangimentos comuns está a luta para atrair a atenção de um
garçom, a paciência para esperar pelo pedido, que com fé virá
certinho, e a famigerada conta. Esses três elementos pode-se dizer
que estão no pacote.
As
pessoas já têm um know how para atrair o garçon, que vai desde chamá-lo de Roberto Carlos até o contar piadas e deixar o
sujeito familiarizado; para dialogar sobre o erro do pedido, aceitando ou não
a nova versão; e até para brincar com o que está a
mais ou a menos na conta, elaborar novas regras matemáticas, enfim,
fazer do erro um motivo bem humorado para alcançar um acerto. Mas há
situações em que os constrangimentos escapolem do repertório,
ficando sem uma fórmula certa para resolução. Recentemente passei
por alguns constrangimentos que tive dificuldade de lidar.
A
primeira situação foi quando fui almoçar uma picanha, acompanhada
de uma amiga. Por se tratar de uma oferta de um site de compras
coletivas, na entrada já nos reportamos ao gerente, e por ele fomos
acompanhadas até uma mesa e atendidas. O sujeito fazia da atenção
e do bom atendimento uma mescla entre a cordialidade e o galanteio.
Grosso modo, agia como se duas mulheres fossem a um restaurante menos
para comer e mais para serem comidas.
A outra
situação delicada foi em um restaurante de comida japonesa a espera de um troco que nunca chegava.
Depois de uns minutos de espera, perguntamos pelo troco e o garçom debochou, desacreditando que estávamos mesmo querendo troco de
centavos. Indo para a matemática, aquela afronta seria motivo mais
do que justo para retirar os 10% da conta, que era algo em torno dos
R$18. Afinal, ele cobrou cada centavo e poderia fazer por menos, por
uma questão de gentileza. Mas a realidade é a de que o comércio
acredita que está prestando um enorme favor à população, de modo
que não aceita um centavo a menos que o preço estipulado, e tem o
vício de incorporar os centavos do troco, incutindo no cliente a
vergonha de fazer caso por tão pouco. Pouco ou muito, é meu e faço
questão.
Por
último, mas não por falta de outros exemplos, fui a um restaurante
de massas, escolhido por ser o mais reservado no shopping. O dia
estava muito quente e ao sentir o ar quase rarefeito fui conversar
com a garçonete. Expliquei que estava abafada, sentindo mais calor
dentro do que fora do restaurante. Ela me explicou que o ar
condicionado não estava dando vasão, pois havia muita gente, o dia
estava muito quente e enfim, não tinha jeito. Para finalizar ela me
situou explicando: se pra você está calor, imagina eu que estou de
roupa de mangas andando pra lá e pra cá. Nesse caso eu consegui
facilmente me colocar no lugar dela e concordar que a situação dela era
pior que a minha, no entanto, o calor era a condição
para ela ganhar dinheiro e o desconforto para eu gastar. Isso muda
bastante a situação.
Enfim, o
texto acena bem a dualidade entre quem oferece um serviço e quem
consome. O limite do insuportável faz com que o consumidor cobre bom
atendimento insinuando que se o empresário não tem o objetivo de
satisfazer o cliente, que migre para outro ramo. E pelo lado do empreendedor, finda na negligência em atender o cliente que reclama muito, incitando
que vá embora para que possa se dedicar a quem não aborreça tanto, que pague calado.
Os manuais de marketing são enfáticos na falácia de que a opinião do consumidor é importante. Talvez seja. Mas nunca tão importante quanto obter lucro. E assim, para cada circunstância uma conotação, a saída passa a ser um bom negócio para todos.
Os manuais de marketing são enfáticos na falácia de que a opinião do consumidor é importante. Talvez seja. Mas nunca tão importante quanto obter lucro. E assim, para cada circunstância uma conotação, a saída passa a ser um bom negócio para todos.
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