Azul é a cor mais quente, verde e amarelo as mais boçais



Finalmente assisti o tão comentado filme "Azul é a cor mais quente". Vi muitos comentários, repercussões e até polêmicas sobre o filme. Algumas coisas compreendi, concordando ou não. Outras me pareceram nada plausíveis, não alcancei.

Para início de assunto, a notícia mais inconcebível é a de que empresas brasileiras teriam se negado a produzir o blu-ray, por considerar o conteúdo inadequado por conta das cenas de sexo, a despeito do filme ter sido classificado para maiores de 18 anos.

A recusa quanto a produzir o blu-ray poderia ser a mais variada possível, desde pouco interessante para o mercado ou até a baixa qualidade das imagens, qualquer coisa técnica. Definitivamente, eu discordaria dos argumentos que sugeri, mas eu compreenderia. Mas o critério de inadequação do conteúdo em virtude de cenas de sexo é um acinte do ponto de vista artístico, cultural e político.

Sobre o filme em si, Palma de Ouro foi uma premiação mecerida. A história é eficiente com o desfecho "vida que segue" tão em voga atualmente, como uma fuga mui digna do happy end. Não adorei a estética, a narrativa ou a montagem, mas reconheço grandes méritos. A narrativa tem elipses que me angustiavam um pouco, mas entendi sem problemas que o diretor queria mais a intensidade dos sentimentos em um certo isolamento do que somar contatos, narrativas e interações desvirtuantes. Os enquadramentos e movimentos eram outros artifícios ousados, aos meus olhos nem sempre muito felizez.

E o que dizer da atriz principal para além do magistral? Indefectível! Numa atuação convicta passou da adolescente simples meio alheia para uma mulher que digere sofregamente suas experiências. E nas difíceis cenas de sexo, condenadas como inapropriadas, a nudez é hipnotizante, encantadora por sustentada pela intenção dramática, de modo algum com conotação pejorativa.

E todos os comentários feitos até aqui não revelaram o embargo definitivo ao filme: trata da homossexualidade feminina. O prazer da mulher foi descoberto um dia desses, os direitos das mulheres ainda estão sendo negociados, e elas querem o quê? Elas querem achar que podem viver umas com as outras, deturpando os valores morais da nossa sociedade patriarcal? Não! Não vamos produzir blu-ray que inspire liberdades demais.

Comentários

Pitty, falou bonito! Dizem que vivemos numa época de liberdade, mas nos deparamos com o preconceito onde menos esperamos, como por exemplo de pessoas do seu próprio círculo, que teoricamente tem a mesma linha de pensamento que a sua. (Só um desabafo!) Mas quanto ao blu-ray, é aí que a gente vê até onde vai o preconceito, com essas empresas que não querem ver seu nome relacionado à temática gay. Também não sei se é essa mesma a preocupação deles, talvez seja puro preconceito individual de quem comanda os negócios. Enfim, de toda forma é preconceito!
Pitty que Pariu disse…
Adriana, muito obrigada pelo comentário. A liberdade de nos expressarmos, dizermos o que pensamos e o que queremos é positiva. É um meio de reivindicar. Sobre o Blu-ray, decisão individual ou coletiva tem impactos na oferta de bens culturais favoráveis à ampliação das percepções e diálogos.

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