Tolerância Zero

Não sei quando a você, mas pessoalmente meu humor é sensível. Alterna de minuto a outro, do razoável para o sofrível. Costumo dizer que não fico chateada. Pulo etapas, fico logo “PUTA”. Ou estou normal, ou estou puta. E é isso, SE QUISER.

Mas não há nada afete mais a minha ínfima paciência, e humor, do que perguntas. Não quaisquer perguntas, mas as perguntas que se enquadram nos quesitos cretinas, desnecessárias e inconvenientes.

Há pessoas que não têm discernimento para distinguir as coisas. Mas eu sou uma ávida devota da máxima de que: uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa, ainda mais quando as coisas são diferentes mesmo.

Enfim, o sucesso da minha narrativa depende em absoluto do poder se realização imaginativa de quem lê. Então, segura na minha mão, me segue, e veja você mesmo como as perguntas são apresentadas de maneiras distintas, mas em comum têm o poder de irritar!

Todos conhecem Marcelo D2 por consumir aberta e fartamente uma erva ilícita e por sua vasta cabeleira. Da noite ao dia ele aparece com o cabelo raspado. Um observador muito atento dispara a pergunta: Cortou o cabelo?

Irritou? Pois bem, isso funciona e é muito mais amplo e corriqueiro do que eu tenha a capacidade de ilustrar. Em que categoria você coloca essa pergunta? Eu coloco na categoria cretina. Só um coeficiente de racionalidade muito abaixo da média conseguiria proferir uma sentença tão débil e óbvia. Em geral temos até uma parcimônia boa com essas perguntas, pois por vezes funcionam como um artifício para se aproximar das pessoas, ou meramente de se fazer notar. Pessoalmente, prefiro a concepção de parecer idiota ficando quieta e calada a dar a certeza de que sou idiota mesmo falando uma coisa dessas. Mas enfim, as pessoas têm o famigerado livre-arbítrio, que as licenciam a cometer os maiores deslizes salvaguardados pela idéia de que conscientemente optam por esta em detrimento de outra(s) ações.

Sem perder a capacidade imaginativa, duas pessoas têm os mesmos sobrenomes e são abordadas e perguntadas se são irmãos. A hipótese é a de que é sabido, mesmo que sem convicção e certeza, que são parentes. Então a pergunta vai logo para o quesito desnecessária. É mera curiosidade, de modo que a resposta positiva ou negativa em nada se reflete a postura dos envolvidos. Insatisfeito por ter apenas proferido a pergunta desnecessária, notando que entre os irmãos não há semelhanças aparentes, o sujeito apela para a inconveniente: Mas são irmãos mesmo?

Essa fecha o tempo. Pois se dizem serem irmãos, são irmãos e fim. Nem que sejam irmãos em Cristo, são irmãos e acabou-se.A semelhança estética dos irmãos é freqüente, contudo, não obrigatória. Além do que, caso sejam irmãos adotivos, de pais diferentes, ou o que o valha, a tal pergunta torna-se um constrangimento que a paciência freqüentemente é insuficiente para compor uma explicação.

Deu para visualizar a distinção entre as perguntas? É chato esse processo inquisitório. É um vício social esse de saber quem é a pessoa, o que faz, como faz, porque faz, onde vai, como vai e por aí afora. Um vício extremamente desagradável, burocrático e absolutamente inútil.

Não faltam ilustrações para as perguntas inúteis, burocráticas. Dia desses fui trocar um parafuso numa loja de materiais de construção e me pediram meu nome e CPF. É tão sem lógica que me causaria o mesmo espanto caso na mesma ocasião me pedissem exame de sangue e carteira de vacinação.

Na internet também me irrito ao responder. Você vai fazer um comentário qualquer num jornal e tem que ter um cadastro, completo. Mesmo num blogger ordinário, assim como esse meu, você tem que dar nome e e-mail. É nessas horas que me vale a suposta criatividade que me acusam de ter de sobra. Ela ajuda a extravasar o mal humor. Quando me pedem CPF para cada número do meu eu coloco, em ordem, um para frente e um para trás. Ou, em outra analogia, para cada número par um ímpar. Os e-mails, em tendo uma arroba os formulários se dão por satisfeitos. O toca a colocar aputaquelhepariu@oviadodoseupai.com.br. Os e-mails têm que ser longo, pois a cada dia que passa fica mais difícil ter um e-mail bem personalizado. Meio que esgotam a criatividade de composição os homônimos e apelidos vulgares, precedidos ou antecedidos de números, datas de nascimento, aniversário de namoro ou número do apartamento.

Darei cabo à aporrinhação de ler meus posts. É incrível, mas escrever, à vontade, é ótimo para meu humor. Pena o mesmo não poder dizer em relação ao humor de quem escreve. Mas, fica à vontade para deixar comentário, com ou sem e-mail, mas de preferência com nome. Para na hora que eu ler, poder agradecer ou xingar e espraguejar nominalmente. Isso dá uma ordem mais pessoalizada para esse processo, e uma sensação de que ele é mesmo válido. Mesmo não sendo!

Comentários

Thati disse…
Odeio este tipo de pergunta também. As pessoas tem a mania de achar que sempre precisam dizer alguma coisa, não importa o quão cretina essa coisa coisa seja.
Eu já sou adepta do em boca fechada não entra mosca. E sempre tem alguém pra dizer: Vc é tão quietinha né??
Ahhh, fala com a minha mão.

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