A parte dos Anjos
Não
importa o título, não importa o ano, os filmes de Ken Loach são sempre uma aula
de sociologia. O cerne de seus trabalhos é dar visibilidade para os elementos
que fragmentam ou conferem coesão para a sociedade. Opera as tensões da conjuntura
social, econômica e cultural, valendo-se do drama do homem ordinário, sujeito
que produz a história do seu tempo em ações cotidianas.
Que
a atualidade pode ser resumida a crise não há originalidade. Que há uma
tendência mundial em transformar relações humanas em oportunidades para empreender lucro, tampouco. O quê então pode ser expresso sobre a atualidade,
sem alimentar a falácia neoliberal? As qualidades humanas para reagir e superar
condições adversas.
Indo
para o filme, em um tribunal alguns indivíduos são julgados. São pessoas
comuns, nem boas nem ruins, que por embriaguez ou mera revolta pela condição de
excluídos cometeram delitos. Nenhum deles é exatamente nocivo à sociedade. Enfim, são apenados com a prestação de serviços à comunidade.
Um
dos punidos, às vésperas de tornar-se pai, foi pressionado por sua namorada no sentido de que aquela fosse uma oportunidade para mudar de vida, abandonando as rivalidades para tocar seu destino em família. E o sujeito
está decidido a tornar-se um responsável pai de família. Porém, a tarefa não é
tão fácil, pois não depende apenas da sua vontade.
Na
trajetória de transformação desse indivíduo, o conflito e o consenso se
substanciam na honestidade, na amizade, na astúcia, nas vocações, nas aptidões,
nos princípios éticos e morais, sendo costurados para delinear o quadro onde figuram a dureza do
sistema e a flexibilidade e capacidade regenerativa do indivíduo.
O
filme funciona como um ânimo, sensível e espirituoso, em tempos de
desencantamento.
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