Garota Exemplar
Ao criar um blogger a minha intenção era a de
partilhar contos, crônicas e amenidades. De uns tempos para cá ficou bem
reduzido o tempo que posso dedicar a esse prazer, e creio até que na mesma
medida em que reduziram os que se interessavam pelo que eu escrevo. Mas notei a
vitalidade de um dos meus mais intensos estímulos para escrever, o cinema. De
minha parte não há qualquer pretensão de posar de crítica especializada da
sétima arte, seria uma ousadia estúpida. O que há é um inexplicável prazer de
expor como recebo e reajo a esse produtos, incitando nos leitores não o
consentimento ou mero desejo de experimentar o produto, mas a reflexão, o
diálogo, a desnaturalização dos conteúdos que circulam, tomando os filmes como
fenômenos sociais que, como tal, falam do nosso tempo. Enfim, allons ...
Em cartaz "Garota
Exemplar". Me indicaram o filme por ser a adaptação de um
livro, mas de fato nada eu sabia sobre o livro. Curto me aventurar em casos como esse em que me faltam informações. Em geral me brindam com
surpresas para lá de agradáveis. E mesmo quando o filme é ruim de assistir, ele é ótimo para
pensar, para aprender. Lá fui eu, e eis que nas
primeiras cenas percebo que o ator principal não é nada mais nem menos que o
colírio Ben Affleck. Depois de "Argo" a beleza tornou-se fichinha perante a
consagração de seu talento como ator, produtor e diretor, sem mencionar demais
trabalhos como roteirista. Me atirem pipocas os que não se sentem seduzidos!
Voltando ao filme "Garota Exemplar", se um
livro é adaptado, logo a história é boa. Bingo! E David Fincher, diretor que
tem entre seus filmes de sucessos "Millennium - Os Homens Que Não
Amavam as Mulheres", "A Rede Social" e "O curioso caso de Banjamin Button",
embarcou nessa.
Dos pontos altos, o elenco e a justeza técnica, no tom para bem
executar, fazendo valer o know how do diretor em suspense e em efeitos visuais.
Do regular, o roteiro adaptado que não conseguiu levar para as telas a
densidade, riqueza e efeitos da história, nem sequer se sofisticou em diálogos que valorizassem o filme por si. Mas o que faltou mesmo para o filme ser bom foi mão para sustentar o "time" de um drama com rastros. Entre o suspense, o
investigativo e o drama, o que o diretor conseguiu mesmo foi uma montagem bem
intencionada, mas pouco eficiente. O que ficou registrado foi apenas a certeza de que a história é mesmo
ótima, mas poderia ter sido mais coesa e melhor contada.
Por sinal, uma das questões da trama é o quanto nos iludimos com as
aparências, o quanto fazemos julgamentos precipitados, o quanto a sociedade
compra ilusões. Mas o roteiro confuso e a pegada do diretor fez o recado
parecer um pouco difuso. Quem é fã do livro se sentiu indignado. Mas essa sensação não chega a ser algo de inédito em se tratando de adaptações. Pra desfecho, com boa vontade e olhos gordos no Ben Affleck, vale conferir!
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