Chile por Pitty
Antes de viajar todo mundo quer saber um pouco sobre o local
que pretende ir. E na internet não faltam relatos presunçosos que se fixam a
tendência de listas. No Chile, os dez lugares que você não pode deixar de
visitar, os cinco restaurantes que você tem que conhecer, os três pratos que
você precisa experimentar e assim por diante. Fugindo um pouco dessas indicações,
tentei reunir algumas informações úteis aos que irão viajar para o Chile,
sem abrir mão das informações inúteis e das divertidas.
Para início de conversa, o Chile é um país da América Latina,
portanto com as típicas marcas dos seus colonizadores. É uma economia aberta,
que se caracteriza para os turistas brasileiros pela grande oferta de produtos
importados e serviços básicos explorados pelo setor privado. Em miúdos, bens
baratos e serviços caros.
Para grande parte dos brasileiros as condições climáticas do
Chile podem ser bastante desconfortáveis, especialmente em Santiago com
temperaturas baixas e baixa umidade do ar. Dependendo da época do ano a
temperatura nos parece até razoável, mas o ar seco exige maior cuidado,
ingerindo bastante líquido, hidratante na pele e protetor nos lábios.
O aspecto urbanístico de Santiago nos salta aos olhos, com
quadras bem desenhadas e ótimas estruturas, bem ao estilo europeu. A população
é densa e de modo geral simpática, solícita. Na base do preconceito, diria que
é uma estrutura urbana europeia povoada por brasileiros. Ou seja, entre os
chilenos há simpáticos e prestativos, há uma tendência à indolência e, sem
rodeios, o jeitinho e a malandragem. Sobre a malandragem, nunca dê a
oportunidade pois os chilenos não desperdiçam.
A moeda local é o peso chileno, mas em alguns pontos
turísticos toleram o dolar. É muito tranquilo o uso de cartões de crédito e
débito, mas ter dinheiro em espécie é indispensável. Diferente de viajar para
os EUA ou europa, você pode ir ao Chile com reais e lá chegando trocar pela
moeda local. Minha dica é trocar uma quantia pequena no aeroporto, que tem
cotação pouco favorável e cobra pela conversão, e em Santiago trocar o maior
montante. Há muitas casas de câmbio na região central, mais precisamente na
Augustinas, onde é possível escolher a melhor cotação para a conversão, que é
feita sem taxa.
Para se comunicar no Chile você não precisa saber espanhol,
basta falar espanhol. É imprescindível se arriscar no espanhol, ou do contrário
nada se resolve. Tenha em mente que você compreende o que eles falam, mas eles
não compreendem você. Numa explicação grosseira, imagine que todos os fonemas
da língua espanhola estão na língua portuguesa, mas um número enorme de fonemas
da língua portuguesa não estão na espanhola. É como dizer que a língua
portuguesa contempla a espanhola, mas o contrário não. Parece ridículo, as
vezes você terá raiva e impaciência, mas eles não entendem português mesmo. O
esforço tem que ser seu de falar o português como que sacaneando quem fala
espanhol. Isso eles compreendem e fará toda a diferença entre o conseguir e o
não conseguir se comunicar!
A alimentação no Chile não tem mistério. E diga-se de
passagem, ao meu paladar tampouco tem grande atrativo. É tudo na base da
proteína com batatas (papas). O destaque fica na conta dos frutos do mar, bem
variados para o nosso lar dos absurdos, que com uma costa pesqueira imensa a
cultura alimentar é baseada na carne de pasto. Outro distinção interessante na
alimentação do Chile é a escolha do óleo para fritura de imersão. No Brasil se
usa o de soja, de baixa qualidade mas o que melhor atende agronegócio, enquanto
no Chile usam o de milho, bem mais saudável mesmo sem escapar do impiedoso
cultivo transgênico. Enfim, por mais oleosa que pareça uma comida no Chile,
pode comer sem medo pois não dá nada. Mesmo aquelas frituras de rua, frango,
batata, churros, tudo saboroso e o fígado não reclama. Aliás, o churros no
Chile é frio e sem canela, mas o doce de leite é honesto e vale muito à pena
experimentar.
Lugares para visitar não faltam e ficam a critério de cada um,
todos excelentes. Há mercados (tipo feiras), mirantes, parques, prédios públicos,
vinhas, museus, shoppings, região montanhosa, vale, praia, enfim, atende a
todos os gostos. O mistérios fica a cargo da mobilidade. Em Santiago o metrô é
a melhor pedida quase sempre, basta comprar o bilhete, baldear nas estações e
circular como queira. A malha é grande, serve bem para parte considerável da
cidade e se liga com terminais de ônibus para cidades vizinhas. Fuja do metrô
apenas no horário de rush, pois é realmente um fenômeno desagradável de 18h às
20h. Os ônibus metropolitanos são fartos, não são lotados, mas pegá-los requer
conhecer razoavelmente os lugares e itinerários, além de adquirir um bip.
Trata-se de um cartão de carga, comprado e carregável nas estações de metrô. Não
tente pegar ônibus metropolitanos (buses) com dinheiro. Já os ônibus que vão
para outras cidades, como Valparaíso ou Vinha Del Mar, as passagens são
compradas em guichês nas rodoviárias e podem ser pagas em cartão ou dinheiro
(chamam de pagamento efetivo). Evite tomar taxi, mas se for sair à noite é o
jeito. Não há bons relatos sobre os taxistas, pois como eu disse, a malandragem
aí tem espaço. Portanto, antes de sair avalie sua corrida por distância em
aplicativos para ter ideia do custo máximo da sua corrida e tenha em mãos
dinheiro trocado. Você assim minimiza a
malandragem na esticada da corrida e na manha que eles têm de dar troco errado.
Ainda sobre a típica malandragem, no Chile não são frequentes
assaltos violentos, com armas na cabeça, sequestros ou coisas do tipo. No
entanto, Santiago é tão perigosa e vigiada quanto qualquer grande cidade. Não
há problemas em tirar fotos pela cidade, mas vale a pena não transitar exibindo
equipamentos eletrônicos, né? Enfim, nenhuma neurose em circular, mas algum
cuidado para não ostentar e tornar-se vulnerável.
Nunca se esqueça também que o centro de grandes cidades é
simbólico, e portanto local para manifestações de todos os tipos, desde
artísticas até as políticas. No primeiro caso você pode tirar proveito, mas no
segundo, como turista, complica um pouco, mudam a mão das ruas, param o
trânsito. Assim, se você tem horário, seja para as vinhas, seja de ônibus para
outras cidades, seja no aeroporto, o cedo é tarde. Não vacile deixando tudo
para a última hora.
Bem, espero que as dicas animem e que sua visita ao Chile
seja tão proveitosa e agradável quanto foi a minha! Se tiver alguma dúvida
sobre Santiago, coloque nos comentários e ficarei feliz caso consiga ajudar.
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