Você que vê coisas invisíveis / você que crê no todo poderoso

Essas frases são de uma música do grupo cidade negra. Tempo saudoso, em que o som tinha uma personalidade bem mais reggae e crítica social do que o pop mais meloso “pega leve”. E outra diferença crucial era o vocalista. Sim, pois esse é o personagem que em geral leva adiante o espírito da banda. Era um sujeito chamado Rás Bernardo. Por este nome não é difícil compor o layout dessa criatura. Dreads total e sempre trajando uma roupa que contivesse algum detalhe apologético como as cores jamaicanas ou ao líder do reggae mundial, Bob Marley. Nada contra Tony Garrido, afinal ele popularizou a banda. Mas penso que não ofende a ninguém explicitar que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Ainda mais quando as coisas são diferentes mesmo.
Não sei ao certo quantos Cds a banda Cidade Negra tem. Nem me darei ao trabalho de me interar de tal coisa. Deles fiquei com dois Cds. Um com o Rás Bernardo, “Lute para viver”, o segundo da banda. E o outro, no esboço de mudança tanto no vocal quanto nos temperos da banda, “Sob todas as forças”, com o qual fizeram enorme sucesso de vendas.
Com o título “Lute para Viver” já é possível intuir o quanto o trabalho tinha de crítica de ação. E é mesmo imperioso, tanto pelas letras muito bem resolvidas quanto sonoridade, menos mista e mais reggae. E as músicas são daquelas que vêem à mente sempre que nas circunstâncias do dia-a-dia o fardo social e político pesa sobre nossos ombros. As letras são do próprio Rás Bernardo, camelô na Baixada Fluminense, sujeito escolado, que vê e compreende as sutilezas e as grosserias da vida e consegue harmonizá-las numa música.O auge do meu comentário, minha loucura, é a letra “Falar a verdade”, escrita em meados 90. Eu tinha cerca de 12 anos quando ouvi pela primeira vez essa música e recordo que me deixou alucinada ficar pensando nesses paralelos, que verdade era essa. Como assim eu o ladrão? Invertia-se. Quem persegue quem? E quem é perseguido? Quem vê coisas invisíveis é maluco? E porquê não é maluco quem crê no poderoso e a partir dele vê o mundo. A Letra que nos faz pensar, indagar, refletir, refutar do primeiro ao último verso. Eu poderia escrever laudas e mais laudas sobre, mas quero lhes dar a oportunidade e o gosto de fazer por si.

"Falar a Verdade"
Vamos falar a verdade pra vocês
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
A fim de saber a verdadeira verdade
Estamos a fim de saber, a fim de saber
Estamos a fim de saber, a fim de saber
Você que luta para se manter
Você que pede pra sobreviver
Você que olha com toda curiosidade
A fim de saber a verdadeira verdade
Estamos a fim de saber, a fim de saber
A fim de saber a verdadeira verdade
Estamos a fim de saber, a fim de saber
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
Ei, ei, estamos aí (pro que der e vier)
Você que foge como um ladrão
Tentando se esquivar da perseguição
Você que foge como um ladrão
Tentando se esquivar da perseguição
Você que anda pelo meio da rua
Você que lê livros de mulher nua
Você que vê coisa invisível
Você que crê no todo poderoso
Você que nasce (hou) você que cresce (hou)

Comentários

Unknown disse…
Cidade Negra realmente já foi muito bom. Todo reggae comercializado cai mesmo na banalidade. Não curto rimas por rimas, sem sentido, só pra dar a impressão de que vão chegar a algum lugar ou a lugar nenhum.
Anônimo disse…
ler todo o blog, muito bom

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