"You know I'm no good" antes de apelo é digno de aplauso
Amy Winehouse morreu. Muitas lágrimas derramadas pelo mundo, comoção, flores, frases e até brincadeiras de gosto duvidoso a respeito da morte prematura da cantora. Na mídia há uma informação irrefutável: o talento. E outras informações dispersas sobre o consumo abusivo do álcool e drogas.
Os jornalistas, as figuras públicas e o grosso da população não estão poupando opiniões que condenam o comportamento da Amy Winehouse. Entretanto, poucos são os que refletem sobre a vida. Sim, aquele brilho existencial que anima cada um e todos os seres vivos. Aliás, sendo um tanto mais profunda, a dor é pela perda da cantora ou da criatura? Afinal, a perda dos pais e amigos da Amy Winehouse é incomparável com a minha perda e a de quem me lê.
Amy Winehouse teve uma carreira meteórica. O talento estava dentro dela, muito provavelmente chocado com uma boa dose de inconformidade com o mundo como ele é, culminando numa construção artística de sua postura: irreverência, embriaguês, alucinações e fugas para um estado melhor. E como uma artífice desse mundo, ela era também uma habitante assídua dessa arte. Muitos dos seus fãs têm a oportunidade de habitar esse mundo ao som de metais, guitarra, piano, baixo e de uma voz arrasadora. A diferença é que finda a música cada qual volta para sua vida, e Amy era sua própria prisioneira.
O mundo do espetáculo vive da angústia, da inadequação, da inconformidade de alguns seres mais sensíveis. E a sociedade já teve exemplos suficientes para compreender que a morte prematura de criaturas excepcionais não tem nada de inédito, e sim de previsível. Aliás, mais do que previsível eu diria que desejável. Perdoem a franqueza, mas é um ritual psicológico muito bem explorado inclusive pela religião. O mundo do desconforto carece de expiação. E o sacrifício individual para a redenção coletiva é um ritual consagrado, base inclusive da teoria cristã.
A morte da Amy traz dor, mas uma dor consumida com prazer. Um prazer tão instintivo que é negado com veemência, estimulado pela culpa. Duvida? Enquanto a sociedade processa a catarse há na indústria fonográfica um impulso para as vendas: os CDs e Dvds da cantora disparam em quantidade e preço. Rádios, televisões, jornais e revistas preparam especiais para reviver a cantora, ou imortalizar que seja. Há um impulso renovador, uma dor que dá impulso para a vida no afã de preencher um vazio. Agora, para os pais e amigos que perderam uma criatura e não um vulto, meu sincero pesar. Não há CD ou DVD que amenize essa dor, que repare a perda. E que Amy Winehouse, criatura e cantora, habite um mundo que lhe pareça mais razoável.
Os jornalistas, as figuras públicas e o grosso da população não estão poupando opiniões que condenam o comportamento da Amy Winehouse. Entretanto, poucos são os que refletem sobre a vida. Sim, aquele brilho existencial que anima cada um e todos os seres vivos. Aliás, sendo um tanto mais profunda, a dor é pela perda da cantora ou da criatura? Afinal, a perda dos pais e amigos da Amy Winehouse é incomparável com a minha perda e a de quem me lê.
Amy Winehouse teve uma carreira meteórica. O talento estava dentro dela, muito provavelmente chocado com uma boa dose de inconformidade com o mundo como ele é, culminando numa construção artística de sua postura: irreverência, embriaguês, alucinações e fugas para um estado melhor. E como uma artífice desse mundo, ela era também uma habitante assídua dessa arte. Muitos dos seus fãs têm a oportunidade de habitar esse mundo ao som de metais, guitarra, piano, baixo e de uma voz arrasadora. A diferença é que finda a música cada qual volta para sua vida, e Amy era sua própria prisioneira.
O mundo do espetáculo vive da angústia, da inadequação, da inconformidade de alguns seres mais sensíveis. E a sociedade já teve exemplos suficientes para compreender que a morte prematura de criaturas excepcionais não tem nada de inédito, e sim de previsível. Aliás, mais do que previsível eu diria que desejável. Perdoem a franqueza, mas é um ritual psicológico muito bem explorado inclusive pela religião. O mundo do desconforto carece de expiação. E o sacrifício individual para a redenção coletiva é um ritual consagrado, base inclusive da teoria cristã.
A morte da Amy traz dor, mas uma dor consumida com prazer. Um prazer tão instintivo que é negado com veemência, estimulado pela culpa. Duvida? Enquanto a sociedade processa a catarse há na indústria fonográfica um impulso para as vendas: os CDs e Dvds da cantora disparam em quantidade e preço. Rádios, televisões, jornais e revistas preparam especiais para reviver a cantora, ou imortalizar que seja. Há um impulso renovador, uma dor que dá impulso para a vida no afã de preencher um vazio. Agora, para os pais e amigos que perderam uma criatura e não um vulto, meu sincero pesar. Não há CD ou DVD que amenize essa dor, que repare a perda. E que Amy Winehouse, criatura e cantora, habite um mundo que lhe pareça mais razoável.
Comentários
Você conseguiu resumir o que eu penso em relação a esse assunto!!
Adorei o texto, muito bem escrito.
Beijão, Pitty.
1) O caso da morte da Amy doeu na minha alma... apesar de não ser uma fã assídua, eu sentia (ainda sinto)uma simpatia enorme por ela, tanto é que ao saber do desfecho da sua vida, algumas lágrimas rolaram. Aí me perguntaram: "Estava na cara que logo, logo ela iria morrer." Eu respondi: "pois é... eu sei". E ficou nisso. Contudo, hoje percebo que o que mais me chamava a atenção era o peso angústia que ela carregava... Esquisito...
2)Tens duas características dignas de admiração: escreves bem e sabes prender o leitor. Perfeito!!!
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parabéns pelo texto. muito bom mesmo!
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grande abraço!