Politicamente incorreta, mas pessoalmente aliviada

Vou fazer um desabafo nada correto, mas bastante sincero. Tudo bem, eu sei que a maioria das pessoas camuflam suas grosserias na escusa da sinceridade. Mas preciso mesmo externalizar o que penso, sob a pena de que se eu guardar demais infarto.

Mediante ao inchaço das grandes metrópoles, aos problemas com a intensificação do tráfego e mesmo por apelos ecológicos, vez por outra me sensibilizo e parto de peito aberto para o “vou fazer minha parte”. Decido deixar o carro em casa, que em verdade sempre me aborrece, e me locomovo com o transporte público. Nesses dias eu bato o meu record de palavrões. Em pensamento, claro.

Imagine um percurso que de carro você faz em vinte minutos. No transporte público esse mesmo trecho demora trinta, com sorte. E fora o percurso, o ônibus não passa na hora que você quer e precisa. O resumo é que fiquei cinqüenta minutos esperando o ônibus e apenas trinta minutos viajando nele. Claro, pensei em todos os palavrões possíveis e imagináveis. E a frase mais repetida era “politicamente correta é o caralho!”.

Deixando de lado a demora e o desconforto, andar de ônibus para uma criatura com formação antropológica nunca é uma tarefa simples. Reparei que a menina linda, vestida de bailarina, que abraçava a vovó com todo carinho, jogou todos os papéis imprestáveis de sua bolsa no chão. Minha vontade era de dar com a cabeça dela na janela do ônibus de dois em dois até ser ímpar. Ou até que aqueles papéis se decompusessem.

Outra observação que me deixou inquieta foi protagonizada por uma moça linda. Ainda passando pela roleta meus olhos se detiveram nela, e ela também olhou pra mim. Fui na direção dela tranquila, e ao lado dela parei. Me vendo com uma bolsa ela nem se ofereceu pra segurar. Perdeu ponto, pois gentileza é sempre bem vinda. Mas ela reverteu o quadro de “desaprovação”. Ao passar meu scan nela notei nada menos do que um ThinkPad IBM no colo. Aí eu morri! Passei a viagem inquieta e intrigada se aquela relíquia funcionava. E se funcionava, se rodava o Windows 3.11 ou o Windows 95.

Parei de observar as pessoas e os comportamentos e fiquei lembrando dos meus primeiros contatos com computador, algo absolutamente apaixonante. E acabei recordando que o Jô Soares apresentava o “Jô Soares Onze e Meia” munido de um ThinkPad IBM, exatamente igual ao que estava ali na minha frente.

Só pra fechar esse texto que não fecha, porque eu fiquei perdida, o ser politicamente correta optando pelo transporte público foi uma merda. É preciso que a população se expresse e cobre das autoridades um transporte público que nos atenda melhor. Mas retomando, no fim das contas, correu tudo bem e saí do ônibus super afetada, saudosa, coisa que não ocorre com tanta frequência na impermeabilidade solitária do carro.

Comentários

Estranho, mas estava com saudades de você aqui.
Olha, sei como é isso. Ainda mais que tenho um toque de percepção e análise extremamente intenso.
Sou daquelas que preferem ficar caladas, pois assim observam mais. Quando decidi fazer mestrado em antropologia, pensei e repensei...vou poder utilizar esse traço melhor...rsrs
Sofro. Padeço.Diariamente. Transporte público faz parte da minha rotina, mas não gostaria de ter um carro e dirigi-lo sozinha por 2 motivos: Meu lado politicamente correta ofereceria carona; meu lado nada correto detestaria companhias...
Affe...
Mais pesar.
Ah, não sou fã de utilizar computador em ônibus, vai saber o que pode acontecer. Carrego o meu netbook somente quando MUITO necessário. E tiro-o a mostra somente dentro de ambientes como faculdade, trabalho e no máximo cafeteria.
Bju, mulher.
K.
Unknown disse…
Há uma estratégia da "não natureza" presente no caos urbano: a MUVUCA é criativa!
Anônimo disse…
Dentre as coisas que posso fazer pelo coletivo NÃO está utilizar o transporte público; caso pensado e analisado. NINGUÉM (nem eu) merece depender dos ônibus de Jacarepaguá para nada!!!! #revolta

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