Em homenagem ao dia dos namorados, falemos de modernidade!

Estive ouvindo, falando, vendo e lendo sobre o amor, relacionamentos e casamentos. Se notar bem, a temática já vem na seqüência. Vivemos um momento não exatamente de crise do amor, mas de inadequação. Penso em algo como um descompasso entre o ideal romântico, o ideal moral e o ideal moderno. Em comum aos três o fato de não se ajustarem perfeitamente à realidade.

O romantismo é moderno. sheakspeare é um divisor de águas da emergência do eu, do indivíduo, frente as tradições, o poder da comunidade, sua imperiosidade frente ao sujeito. Antes de Romeu e Julieta o casamento nada tinha a ver com um ideal romântico. Era um acordo familiar que pregava a união de dois indivíduos, sem contar muito com a escolha, com a decisão dos que se uniam.

Em Romeu e Julieta nasce o amor romântico. O ser não mais aceita as imposições de sua comunidade, do seu grupo, de sua família. Ele passa a decidir, ele escolhe, ele se apaixona, ele ama. E ama profundamente e padece desejoso dessa união que fere e desobedece as tradições. Esse é o amor, tão maior e sublime quanto mais impossível. Transcender a vida é um dos aportes do amor.

O romantismo então é construído nessa ruptura, do tradicional para o moderno, mas não sem regras, não sem limites. O amor tem que ser único. O ser amado é idealizado em perfeição. Esse ser será amado e desejado exclusivamente, só ele e mais ninguém. E a união com ele há de ser eterna. Ora essa, este é o amor: impossível.

Costumo dizer que este é o contrato. Nele as cláusulas são, pretensamente, iguais para ambos os envolvidos. Contudo, é sempre mais fácil cobrar que as regras sejam cumpridas do que seguí-las. Me atire uma flecha um só cupido que discorde. Esse é o complicador moral. Oras mais, oras menos, o social nos cobra uma postura moral tanto de inibir nossos possíveis deslizes, quanto o de fiscalizar os alheios. E o nosso descumprimento de uma regra moral é sempre menor e menos importante do que o descumprimento dos outros, que é uma afronta grave. Em outros termos, eu estar namorando e ocorrer de ficar com outro é um fato isolado, sem importância. Já a minha vizinha, aquela vagabunda...dá pra entender? Enfim, mesmo com sansões morais a fidelidade é mesmo uma espécie de sacrifício em nome do amor.

Digo sacrifício sem reservas, e me apoio tanto num discurso biológico, como num sociológico. Não é novidade pra ninguém que no reino animal a única espécie que permanece fiel são as baleias. Saindo correndo da biologia, que não é mesmo a minha área, vamos para o discurso sociológico.

Vivemos um período sem par de transformações. A nossa vida é ditada por um ritmo frenético. Temos que estar aptos a mudanças. No trabalho, sempre nos atualizando. Mudando de emprego, nos adaptando a novas regras e grupos. Mudando de espaço físico, agregando umas e esquecendo outras referências. Sempre buscando inovações. E no amor? Temos mesmo que nos estagnar? Temos que nos contentar com um, e pra sempre? Se formos analisar detidamente a questão é bem confusa. O ficar já é um indicativo que pode ser que as mudanças na esfera profissional e social influenciem decisivamente a afetiva.

Mas, enquanto essas mudanças não se efetivam, um brinde ao amor! Possível ou impossível, pra sempre ou apenas enquanto dure, um viva às uniões. A despeito dos argumentos tendenciosamente racionais, sou uma passional. Pois o amor, assim como os Deuses e os sonhos, quando não se acredita nele, ele deixa de existir. EU ACREDITO! Me valendo de João Gilberto: Fundamental é mesmo o amor/ é impossível ser feliz sozinho

Amor, um beijo!

Comentários

Cris Medeiros disse…
Lindo post! Alías como seus outros posts tb, vc escreve muito bem, de forma clara, objetiva!

Eu sou um tanto contra ao romantismo que idealiza seu parceiro, acho que daí nascem todas as separações. As pessoas precisam perceber que o ser amado têm defeitos e que vc precisa tentar relevar e entender, porque se ele está contigo, é porque tb está relevando e entendo os seus defeitos.

Respeito pelo ser amado acima de tudo!

Beijos
Ah, eu já acho que esse negócio de Dia dos Namorados é mais uma daquelas datas que só servem pra tentar impulsionar o comércio... Mas vai lá saber né?!

Bjus!!
Cau Bartholo disse…
Oi pitty e aí blz???
mulher tava com aquele nó na garganta... agora passou hehehe.
:)
então olha esse negócio de amor, pra mim não passa de confusão hauhauah, eu vivo intensamente e acabo me estrepando, mas enfim que venha o dia dos namorados, não sei se passo com o ficante, com o pretendende, com as amigas, sozinha...
hauahuahau uma putaria generalizada.
beijos
Nathália E. disse…
Acredito muito no amor, mas sou contra qualquer tipo de idealização.
Nada como estar com a cabeça nas nuvens e os pés no chão.

Você escreve absurdamente bem.
Beijo!
Lu disse…
Olá Pitty, finalmente vim conhecer sua escrita.
Ultimamente, eu tenho me mantido distante dos conceitos relativos ao amor, suas formas, aplicações, transformações históricas. Tenho ficado com a minha definição que já é bastante confusa e problemática.
Se por um lado, o ideal romântico trouxe essa "liberdade" de escolha dos parceiros; por outro, nos sedimentou o movimento. Amor eterno e único, perfeição, heroísmos, condutas impecáveis, a necessidade de ser par, filhos: impossibilidades.
Toda vez que estabelecemos "procedimentos", "modus operandi", o trem desanda...rs
Vou remexer mais por aqui.
Abraços,
O amor é lindo, mas esse negócio de dia dos namorados sozinha é o fim do mundo. Ainda bem que passa rápido.

:)

bjs
Tell Aragão disse…
eu acredito no amor...
o problema é que o amor parece que não anda acreditando muito em mim :/
Patrícia disse…
Eu não aponto o erro dos outros porque enxergo os meus. E acredito no grego que falou (ah não lembro qual, mas depois te deixo a frase, tá?) que cometer injustiças é pior do que sofrê-las.

Concordo plenamente, também, quando você fiz que o amor é um contrato onde são fiscalizadas (constantemente) as regras.

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