O erê

Não adianta negar, todo mundo já foi criança. E não foi um dia, foram vários. Ninguém nasce adulto, nem Sidarta, nem Jesus Cristo, nem Matusalém, nem Hittler, nem Napoleão, nem ninguém. Por mais desconfortável que seja acreditar, até o Cid Moreira, a Dercy Gonçalves e a Zilca Salaberri foram crianças.

A criança precisa cuidados, carinho, atenção e de amparo dos pais e do Estado. Há um estatuto apropriado em prol do seu pleno desenvolvimento social. A nossa sociedade introspectou de forma decisiva a concepção de que a criança é um ser que precisa se desenvolver até estar apto para ser socialmente atuante, reprodutivo e, mais que tudo isso, produtivo. Mas não foi sempre assim!

Ainda no início do séc. XX as crianças eram numerosas na mão-de-obra que tocava tecelagens e industrias diversas, além de exercerem outros pequenos trabalhos domésticos, no comércio e até na agricultura.

E hoje, a realidade é diferente? Os otimistas diriam que sim, os pessimistas diriam que não. O componente ideológico de compreender a criança como um ser em formação é a distinção principal. Claro que atualmente há crianças que trabalham, mas não há mais a idéia de que isso é legal.

O amparo da criança pelo Estado é algo que em forma inevitavelmente gera controvérsias, mas há concórdia em reconhecer a sua necessidade. Não tomo as crianças como débeis ou incapazes, ao contrário, eu acho que elas são humanas, com todos os instintos a flor da pele. O que fazem é um processo de socialização. É como ensinar para elas as regras de um jogo.

Aliás, as brincadeiras são por certo atividades que de alguma forma preparam o ser para a vida adulta. Os brinquedos são elementos da vida adulta adaptáveis às atuações infantis. As sociedades se reproduzem nos brinquedos.

Por exemplo, a divisão sexual de atividades pode ser perfeitamente apreendida através dos brinquedos que são ditos próprios aos meninos e próprias às meninas. A mulher, que há de se preparar para o lar, toma conta da boneca, arruma a decoração, faz comidinha, passeia com o bebê no carrinho, brinca com a caixa registradora, escritório, se pinta para ser atraente ao sexo oposto (isso é o inferno na terra, mas é a mais dolorosa verdade) e uma infinidade de porcarias que a fazem quase tão estática, manipulável e inútil como uma Barbie.

Já os meninos competem em piques, no futebol, em jogos de cartas, tabuleiros, dirigem carrinhos de controle remoto, caminhões, empilhadeiras, carros de bombeiros, carros de polícia, motocas, lidam com bonecos e monstros (seus futuros patrões), guitarras, baterias, e são muito estimulados em jogos de raciocínio lógico e de percepção espacial. Conseguem perceber a nossa sociedade através dos brinquedos?

E logo na infância os instintos da criança vão sendo domados, as habilidades vão sendo trabalhadas para que esses pequenos seres se adaptem a sociedade. Há os que aceitam totalmente a socialização, mas há os que aceitam apenas parcialmente, como é o caso dos meninos que adoram as maquiagens e bonecas, ou as meninas que insistem em jogar bola. Mas devemos admitir que a sociedade anda, ainda que em passos lentos, investindo numa certa equidade entre as funções sociais, dissolvendo a duras penas o critério de gênero.

Pessoalmente tenho com as crianças uma relação excelente, afinal fui uma muito feliz e bem resolvida. Não menosprezo a necessidade de proteger, amparar e demonstrar as regras do grande jogo social, contudo, não trato as crianças como tolas. Elas já são pessoas, já têm personalidade definida desde os primeiros anos de vida. Costumo dizer que eles não mudam a personalidade, apenas a complexificam ou potencializam. É mais ou menos a teoria de que o filha da puta nasce!

Pra manter a tradição, que sem perceber incorporei ao meu blogger, de fechar o post com uma questão, quais as brincadeiras da sua infância que são reproduzidas ou que influenciaram decisivamente sua vida adulta, ou carreira profissional?

Comentários

Cau Bartholo disse…
Querida pitty, CLAP CLAP CLAP, pra você e seu texto adorei, tem sido quase constante essa adoração pelos seus textos...
:)
Bom incorporando o blog, vamos responder: eu tive uma infância de muita farra, brincava de barbie e brincava de comandos em ação... sempre misturei tudo, primos homens, amigas filhas dos amigos dos pais... alias são minhas amigas ate hoje... então sempre brinquei de tudo um pouco, acho que por isso sou táo versátil...
:)
respondido? BEIJOS, valeu pelas visitas e coments.
BEIJOS bom fim de semana.
Lomyne disse…
Particularmente, considero que existem as coisas que nos formatam como deferentes pelo sexo e as coisas que nos formatam para sermos adultos adequados ao modelo social, desde se vestir até se portar à mesa. O Admirável Mundo Novo de Huxley não me parece tão absurdo hoje em dia... Aliás, como costuma dizer uma amiga minha psicóloga, tudo traumatiza, nós somos o somatório de nossos traumas, principalmente os de infância.

O que me marcou como criança? Os jogos de tabuleiro. Neles treinei minha memória e minha capacidade analítica, não que isso ajude a pagar minhas contas hoje em dia, mas fizeram de mim o que sou.

E por fim, ao seu comentário de minha sopa de notinhas, eu avisei que elas nada acrescentam, mas te poupam de ver o Fantástico no domingo, hehehe...
Tell Aragão disse…
eu adoro crianças...
eu adorei ser uma....
e adoro continuar sendo, de vez em quando...
nunca parei pra pensar nas brincadeiras que influenciaram na minha vida adulta...
talvez a "de falar sozinha", o que me fez ser criativa... talvez a brincadeira de "academia" e "elástico", que me ensinaram a pular e hoje pulo pra escapar das dívidas hahahah
brincadeirinha... sei dizer não, ó! :O
Anônimo disse…
A brincadeira para as crianças é essencial.Ela ajuda a criança a descobrir o mundo,o vida e ela mesma.crinaça noa tem que trabalhar,ela esta na fase de se conhecer,se construir!
Cris Medeiros disse…
A minha infância foi boa, apesar de ter sido muito presa pela minha mãe, mas quando consegui escapulir a vida tinha um brilho especial!

Não me lembro de nenhuma brincadeira infantil que tenha me influenciado na vida adulta...

Beijos
Olá!! Passa lá no meu blog, tem post novo!!=)
Desculpa...=(

Bjus!!
Lu Ribeiro disse…
só pra informar que estou de volta!!! depois passo com calma e leio seus posts, pois ao que parece vc esteve bem inspirada durante meu recesso virtual...adorei seus recados.

bjs
Nathália E. disse…
Em 1995 ganhei meu 1º computador. Fiquei louca com ele, queria abrí-lo, estudá-lo, queria fazer coisas nele, testar minha criatividade.
Eu tinha 5 anos de idade.
Hoje faço a faculdade de Tecnologia da Informação e vou me especializar em web designer e posteriormente, web master.

Adoro crianças! Me acabo com elas!
Hahaha

Beijo!
Patrícia disse…
"A mulher, que há de se preparar para o lar, toma conta da boneca, arruma a decoração, faz comidinha, passeia com o bebê no carrinho, brinca com a caixa registradora, escritório, se pinta para ser atraente ao sexo oposto (isso é o inferno na terra, mas é a mais dolorosa verdade) e uma infinidade de porcarias que a fazem quase tão estática, manipulável e inútil como uma Barbie".

A minha infância foi no interior, e acho que toda criança que cresce no interior tem uma liberdade maior do que outra que cresce vendo das "grades da cidade grande" e se entope de fastfood. Os meus brinquedos preferidos são os que estimulam a inteligência. E são os que compro pra minha sobrinha. Se achar qualquer outro legal, não vou pensar se é de menino ou menina. Penso no que vai acrescentar na cabecinha dela. No mais, cresci com meus primos de mesma idade, enquanto a diferença entre eu e a minha irmã é de 10 anos. Tenho hábitos masculinos. E adoro. E tenho mais amigos homens também, e isso às vezes até incomoda o meu namorado. Mas acho que tive uma boa infância sim. Quem sabe, até um dia escrevo sobre isso também.

patsamp.blog-br.com
Patrícia disse…
Nossa, esse negócio de MEME tá complicado, consegui listar poucas maldades (ainda não postadas). Será que eu sou tão boazinha quanto pensam? Valha!!

- hoje à noite tenho certeza de que as maldades vão aparecer.

=)
Patrícia disse…
MEME postado. Fica melhor entender a minha indignação se clicar nas palavras linkadas e ler ao menos uns trechos das matérias selecionadas.


Beijo!
Maldito disse…
Acho que ainda não me livrei da infante mania de brincar de médico,...rsrs
Bjs

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